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Coronavírus: ao tentar imitar Trump, Bolsonaro acelera crise na economia

Coronavírus: ao tentar imitar Trump, Bolsonaro acelera crise na economia
Coronavírus: ao tentar imitar Trump, Bolsonaro acelera crise na economia

Na última terça-feira (24), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que pretendia pôr fim às medidas de isolamento por conta do coronavírus até a Páscoa, em 12 de abril. Ele voltou a minimizar a pandemia, como fez nos primeiros momentos ao compará-la a uma gripe sazonal, incomodado com o impacto econômico.

No mesmo dia, admirador do americano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em cadeia nacional em que também fez pouco caso, mais uma vez, a pandemia do novo coronavírus. E mais: estimulou a imediata reabertura do comércio e criticou medidas de isolamento.

Com isso, o presidente contrariou recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de médicos infectologistas brasileiros. E também bateu de frente com governadores, que adotaram medidas mais drásticas para evitar contaminação e mortes.

Além de tentar imitar Trump, Bolsonaro priorizou a retomada da economia em vez da contenção da Covid-19.

Atualmente, o Palácio do Planalto fala uma língua e os Estados, outra, sem nenhuma ação coordenada. Isso deixa a população confusa e está longe de ser auspicioso para a atividade econômica.

O próprio Trump, no entanto, moderou o tom já na quarta-feira (24), disse que não faria nada precipitadamente e que, mesmo depois, quando houver a retomada das atividades econômicas, o governo vai incentivar o distanciamento social.

“BATEÇÃO DE CABEÇA”
Enquanto isso, no Brasil, segue a “bateção de cabeça”, a preocupação de entidades ligadas à área da saúde e também dos economistas.

“Não há coordenação entre o governo federal, que ficou isolado, com os Estados e municípios que têm aparentemente uma posição mais voltada à preservação do isolamento social. Para a economia também é muito ruim essa falta de sintonia entre os governantes. Esse pingue-pongue diário de notícias desencontradas deixa cidadãos e empresas perdidos em relação ao que está acontecendo e ao que vai acontecer”, afirma o economista e professor de Finanças do IBMEC e da FDC, Gilberto Braga.

Depois que o presidente comparou a pandemia de coronavírus a uma “gripezinha”, ignorando dados científicos, 26 governadores fizeram uma reunião virtual sem a participação de Bolsonaro, e decidiram manter medidas que diminuam a circulação de pessoas para evitar a propagação da Covid-19.

Nem todos têm capacidade de agir contra o vírus sem apoio do governo federal e com a economia parada, ou seja, com queda vertiginosa na arrecadação. Assim, em alguns locais as atividades podem ser retomadas e, em outras, não.

“Em primeiro lugar, é preciso salvar vidas”, frisa Braga. “Com essa questão de conflito entre governo federal e estaduais, que tem ainda o ingrediente de diferenças políticas e eleitorais, quem acaba perdendo é a população. É importante que exista entendimento. As experiências internacionais sugerem alguns comportamentos para controlar a doença, mas o Brasil tem características particulares. Menos idosos (que integram o grupo de risco), proporcionalmente, mas um sistema de saúde mais frágil. Também há diferenças na economia. Somente a ajuda que os Estados Unidos estão anunciando é do tamanho do PIB do Brasil”, destaca.

NÃO É DE HOJE
“O coronavírus só está revelando algo que não é de hoje: a desarticulação das instituições sob o governo Bolsonaro. O governo gera conflitos diários desnecessários e tem muita dificulade de respeitar as instituições”, afirma Virene Matesco, professora da FGV e doutora em Economia.

“Estamos vivendo uma desorganização da economia, não pelo Paulo Guedes (ministro da Economia), mas por decorrência do coronavírus e há a possibilidade de termos uma convulsão social”, avalia. “Empresas e indivíduos não sabem que decisão tomar nas suas vidas pessoais e profissionais. A incerteza é o pior veneno para o sistema econômico. O que falta? Comando”, complementa.

Virene também tem uma loja e vive o mesmo drama de pequenos empresários que não sabem se ainda terão um negócio nos próximos dias. Mas não titubeia: “Eu tenho loja, está tudo fechado. Mas quero minha família viva. Juntos vamos trabalhar, recomeçar. Mortos, não adianta”.

Fonte: agazeta.com.br

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