Anteriormente demonstramos a afinidade dos Templários com Portugal e sua vital importância na formação deste país de tal modo que podemos definir Portugal como um país templário.
A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (Pauperes commilitones Christi Templique Salomonici), conhecida como Ordem do Templo, foi uma ordem militar de Cavalaria. Uma organização que existiu durante cerca de dois séculos na Idade Média, tendo sido fundada na Primeira Cruzada por volta de 1096. Dizem que seu propósito era o de proteger os cristãos que voltaram a fazer peregrinação a Jerusalém, mas isso vem sendo contestado por estudiosos.
A Ordem ficou riquíssima e muito poderosa com o passar do tempo. Eles receberam várias doações de terras na Europa como, por exemplo, a herança do Rei Afonso I de Aragão que deixou todos seus bens às ordens de cavalaria e a floresta de Cera com o Castelo de Soure, doados pela Rainha de Portugal, Teresa de Leão, com a condição de que expulsassem os sarracenos do país. Além das doações, os Templários também recebiam constantes benesses do Papado, como:
1144 – Bula Milites templi: os cristãos são incentivados a doar bens à Ordem;
1145 – Bula Milicia Dei: aumenta a autonomia da Ordem junto à Igreja;
1198 – Bula Dilecti filli nostri: garantia à Ordem fruição completa das doações que recebiam;
Mas não viviam só de doações, eles usavam as propriedades que lhes eram doadas para plantar trigo, cevada e criar animais. Assim a subsistência dos cavaleiros se dava com a venda de trigo, cevada, lã de carneiro, carne de bovinos e queijo feito com leite dos animais criados nas propriedades templárias.
Devido à necessidade de contingente, começaram a ser admitidas na ordem pessoas que não atendiam aos critérios que eram levados em conta no início. Geralmente isto precede à ruína qualquer intuição. Logo, o fervor cristão, a vida austera e a vontade de defender os cristãos deixaram de ser as motivações principais dos cavaleiros templários. Bernardo de Claraval, em seu De laude novæ militiæ, divide a Ordem em dois grupos: militia, que são os cavaleiros cristãos comprometidos com as motivações iniciais da ordem, e malitia, pessoas que buscavam apenas reconhecimento e status por pertencer à ordem.
Banqueiros
Os Templários se tornaram os grandes financistas e banqueiros de sua época. Consta que o Templo de Paris era o centro do mercado financeiro mundial. Nesse banco, Papas e Reis depositaram seu dinheiro. Ingressaram eles com êxito no mercado de câmbio com o Oriente. Essa foi talvez a primeira instituição bancária na Europa. Não cobravam juros sobre empréstimo, uma vez que a agiotagem era proibida – declarada imoral pela Igreja e pela Coroa. Aluguéis superiores aos valores usuais para empréstimos sob hipoteca eram uma espécie de juro tolerada.
A história registra que os Templários atingiram o ápice do seu poder pouco antes de sua ruína. Haviam eles se tornado uma “igreja dentro da igreja”. Isto acabou provocando forte desavença com o papa Bonifácio VIII. Em agosto de 1303, o Rei da França se aliou ao chefe dos Templários contra o papa. Pouco depois, Guillaume de Nogaret, ministro-chefe de Filipe, acusou Bonifácio de ser um “criminoso herético” para o clero francês. Em 1303, Filipe e Nogaret foram excomungados. No entanto, em 7 de setembro de 1303, um exército liderado por Nogaret e Sciarra Colonna da família Colonna, surpreenderam Bonifácio em seu retiro em Anagni. O Rei e os Colonna exigiram que ele renunciasse, mas Bonifácio respondeu que preferiria morrer. Lembra o folclore local de Anagni que, em resposta, nessa altura um membro da família Colonna deu uma sapatada (tapa) em Bonifácio. O papa teria sido espancado e quase executado, mas foi libertado da prisão após três dias por intervenção dos habitantes locais. No auge dos seus 86 anos de idade ele não resistira tantas emoções e veio a falecer trinta dias depois
Foi eleito então Bento IX, que manteve uma atitude intransigente contra o Rei Filipe, ampliando a excomunhão dos assessores jurídicos do Rei. Mas, misteriosamente, Bento IX, morreu envenenado com figos após oito meses e meio de papado. Felipe, então, usando de toda a sua influência, conseguiu a eleição de seu protegido – Beltrand de Goth – Clemente V. Com um papa submisso e a sede do papado em Avignon, França, o Rei multiplicara seus poderes.
Esse mesmo Rei, Philippe, o Belo, acabou traindo os Templários e buscando seu fim. Dizem que ele devia grandes somas ao Templários, havendo sofrido um grande prejuízo financeiro não conseguira recuperar seus recursos. Imaginou, então, que a supressão dos Cavaleiros Templários lhe seria vantajosa; assim, planejou unir as ordens dos Hospitalários e Templários sob a sua autoridade. Porém, não foi feliz nesta empreitada. Jacques De Molay, que havia sido convidado à presença do papa (que tentou persuadi-lo) recusou a fusão com os Hospitalários, pois percebeu que a nova Ordem ficaria sob o comando do Príncipe Francês. Além disso, Jacques de Molay também negou-se a admitir na Ordem o filho do Rei Filipe.
O Rei buscou de toda forma uma aliança com o Grão-mestre templário. Filipe nomeou-o padrinho de um dos seus filhos e propôs-lhe o ingresso de outro na Ordem. Evidentemente que este novo membro da Ordem, em razão de sua linhagem real, deveria ser a curto prazo o novo Grão-Mestre da Ordem. Por isso, Jacques de Molay recusou gentil e firmemente. Finalmente, a cobiça real conseguiu retirar-lhe algo: Isabel, filha de Filipe, estava pronta para casar-se e seu pai conseguiu arrancar de Molay um robusto dote.
Alguns estudiosos também apontam que o próprio Rei teria tido seu ingresso à Ordem negado. Diferente do que se pensa comumente, homens casados eram admitidos sob diferentes regras.
“Regra 69 – Se homens casados solicitam admissão na fraternidade, benefício e devoções da casa, permitimos-lhes recebe-los nas seguintes condições: que depois de sua morte deixem-lhes parte de seu patrimônio e de tudo o que tiverem obtido daí em diante. Enquanto isso, deverão levar vidas honestas e dedicarem-se a agir bem com os irmãos. Mas não deverão usar mantos ou casacos brancos: além disso, se o senhor tiver que morrer antes da sua senhora, os irmãos deverão tomar parte de suas posses e deixar que a dama tenha o resto para sustenta-la pelo seu tempo de vida; pois não nos parece correto que tais consortes devam viver em uma casa com irmãos que prometeram castidade a Deus.”
Era necessário desacreditar os Templários, o Rei então procurou realizar seu intento proclamando que a Ordem era herética e imoral. Introduziu espiões, os quais, segundo consta, cometeram perjúrio revelando os ritos, juramentos e cerimônias, proclamando que os mesmos profanavam o cristianismo. O público em geral sabia que os Templários tinham ritos secretos, mas não conheciam realmente sua verdadeira natureza. Havia rumores infundados de que esses ritos eram lascivos e blasfemos. As declarações dos espiões perjuros do Rei Philippe buscaram confirmar os boatos.
Já o papa, por sua vez, não havia demonstrado inclinação para acreditar naqueles relatos que lhe eram transmitidos através das tramas de Philippe e tomar providências. Então o rei, astutamente, apresentou suas inventadas queixas à Inquisição, que na época prevalecia na França. Ocorre que a Inquisição tinha o poder de agir sem consultar o papa. A inquisição desejava o controle absoluto da Igreja. A Ordem dos Templários, com seu poder econômico e militar, era um entrave. Em consequência, o Grande Inquisidor exigiu a prisão dos Templários.
Em junho de 1306, Jacques de Molay, Grão-mestre dos Templários de Chipre, consultava o papa Clemente V sobre “a perspectiva de uma nova cruzada”. Aproveitou o ensejo para denunciar as acusações que estavam sendo feitas contra os Templários, e partiu. Durante todo o tempo em que lhes eram imputadas incriminações, os Templários não se defenderam. Seis meses depois, Jacques de Molay e sessenta de seus companheiros foram presos e forçados, sob tortura, a confessar. Após os oficiais do rei os torturarem foram entregues aos inquisidores da Igreja, para que fossem ainda mais torturados. Muitos desses eram idosos e morreram em decorrência da crueldade a eles infligida. As confissões que lhes eram arrancadas eram falsas; haviam sido forçados a confessar atos de irreverência e heresia. Além disso, o Grão-mestre foi obrigado a escrever uma carta em que admitia ter cometido atos contra a Igreja.
É de se estranhar a passividade dos Templários que se deixaram prender pelas forças do Rei, sendo que, naquela época, os Templários deviam ter, apenas na França, 3.000 cavaleiros combatentes de primeira linha, infinitamente superior aos militares do Rei; Além destes, existiam os escudeiros, que se vestiam de preto e, os servidores e funcionários, que se bem não fossem combatentes, serviriam no caso como apoio e para cuidar das instalações.
Ocorre que os Templários juravam lutar contra os inimigos da fé que, tradicionalmente, eram de outra raça, e a Regra proibia-lhes combater contra cristãos, somente podiam reagir quando três vezes atacados e, em caso de conflito, a declaração ou ordem de lutar somente podiam vir do Grão-mestre. Estando ele preso, os Templários, com uma disciplina pouco comum, limitaram-se a obedecer as Regras que tinham jurado.
Na análise das acusações, pode-se perceber que os Templários possuíam conhecimentos esotéricos que chocavam e chocam o dogma:
1 – Os Templários não manifestariam entusiasmo por Jesus, o que era considerado grande heresia pelo Papa.
A existência de Jesus da Nazareth, o Cristo da religião católica, e sua crucificação da forma como tem sido transmitida pela Igreja, tem sido questionada por diversos estudiosps. Na Terra Santa não existia, até a Idade Média, com nome de Nazareth e, sim uma comunidade essênia na Galiléia que tinha esse nome. A Igreja de então procurava ocultar a origem de Jesus como essênio. O amor fraternal apregoado por ele é um dos alicerces principais da doutrina essênia.
O descobrimento dos pergaminhos do Mar Morto em março de 1947, junto com o esclarecimento de alguns pontos da existência dos essênios, trouxe luz ao relacionamento de Jesus e a Sagrada Família com os essênios.
Os Templários em muitos se assemelhavam com aos essênios: só moravam homens na comunidade, usavam o branco como vestimenta, todos os bens eram comunitários, individualmente nada possuíam obedeciam rigorosamente a hierarquia.
2 – Cuspir na cruz.
No mundo antigo a cruz era instrumento de tortura usado para castigar escravos e indivíduos de classes inferiores. Desde aí que as religiões, tentando expressar a dor dos que sofrem, incluíram a cruz nas suas variadas formas para venerar os deuses pagãos. Mas o cristianismo demorou para adotar a cruz dentro de sua liturgia. O suplício na cruz era símbolo da derrota dos escravos rebeldes; existia um terror instintivo que afastava os fiéis da exaltação pública da cruz. E quando, aos poucos, a cruz foi aparecendo no cristianismo, os cristãos antigos foram apelidados de adoradores da cruz, de forma pejorativa. Foi Somente no século V começou a ser admitida a imagem de Jesus crucificado. Além disso, para estes cavaleiros, a cruz de madeira é matéria, diferente do espírito; a matéria morre, acaba, apodrece, porém o espírito é eterno. Era assim que os Templários entendiam-na;
O parágrafo 13 do Título da Regra dos Templários indicava que o Recipiendário caminhará sobre a cruz mas, no parágrafo seguinte, explicava que não é a forma mas sim a essência que devemos reverenciar. Os historiadores não tem conseguido aclamar totalmente, a acusação referente aos ídolos. Sobre o famoso crânio ele teria dentre os Templários o mesmo significado que tem para os maçons: o reconhecimento da Razão de que o Homem está dotado e se encontra contido dentro do crânio.
As outras acusações baseavam-se na heresia, algo gravíssimo para a época. Aqueles que manifestava-se contra a fé, sofria a excomunhão que significava o ostracismo dentro da sociedade. Devemos lembrar que durante 200 anos eles lutaram e morreram (incluindo 5 Grandes Mestres) pela fé religiosa e, quando feitos prisioneiros, eles preferiam morrer a abjurar da sua fé. Além disso, quando a Ordem foi dissolvida, grande número de cavaleiros ingressou em diferentes conventos para continuar dentro de sua fé.
As acusações contra eles, eram, obviamente, forjadas e infundadas. Fabricadas com objetivo específico e já determinado. Não precisavam de provas, apenas de confissões arrancadas sob tortura. O que estava em jogo era o poder. Um velho conhecido causador de caos da humanidade.
O papa acabou sancionando os atos dos inquisidores e ordenou a prisão dos Templários em toda a cristandade. A ordem de prisão foi redigida em 14 de setembro de 1307, com ordens para ser aberta em todo o reino no dia 13 de outubro do mesmo ano (uma sexta-feira 13, como herança considerada temerosa), todos os cavaleiros que estavam em território francês foram detidos. Mais tarde, determinou uma nova Inquisição para reconsiderar as acusações contra os Cavaleiros, acreditando que teriam um julgamento justo. Os Templários abjuraram suas confissões anteriores, em que tinham sido feitas sob coação. Porém, a retratação de suas confissões era passível de punição com a morte na fogueira.
Acolhendo os conselhos do Rei, a Inquisição foi violenta, encarcerando-os, torturando-os e queimando-os; 54 Templários foram queimados vivos em Paris antes de serem interrogados. Em março de 1314, Jacques de Molay, o Grão-Mestre, e outro Templário, foram levados a um cadafalso erguido em frente a Notre Dame. Deviam então confessar sua culpa, ante os legados papais e o povo. Ao invés disto, retrataram-se de suas confissões e tentaram defender os Templários diante da grande multidão que assistia ao processo, proclamando a inocência da Ordem.
Jacques de Molay, então, toma a palavra, retratando publicamente das confissões obtidas sob tortura e declarando a Regra do Templo, santa, justa e católica, sendo seguida nesta atitude por Geoffroy de Charnay, que o acompanhava. Diante de tamanha mostra de rebeldia e coragem contra o Rei e a Inquisição, a reação das autoridades francesas foi imediata: condena-os à fogueira, sendo executados nesta mesma tarde. Foi-lhes concedido um último favor: voltar o rosto para a catedral de Notre-Dame e à Mãe de Deus se encomendarem, em conformidade ao hábito templário de dizer no fim das orações da tarde “as completas de Nossa Senhora, visto que Nossa Senhora esteve na origem da nossa religião e para Ela e em sua honra será, se a Deus prouver, o fim das nossas vidas e o fim da nossa religião, quando Deus quiser que seja”.
A maldição
Jacques de Molay é queimado vivo e antes de morrer faz uma imprecação contra o Rei e o Papa :
Perante a fogueira, ele despiu-se totalmente de suas vestes de Grão-mestre, ficando nu para simbolizar que era o ser humano Jacques de Molay que estava sendo queimado e não o Grã-mestre da Ordem dos Templários, e fala-se que, nas suas últimas palavras, estabeleceu um prazo de 45 dias ao papa e de um ano ao Rei para comparecerem ante o Tribunal de Deus.
Em 20 de abril de 1314, quase 2 meses depois, em Roquemaure, o papa Clemente V morria vítima de uma infeção intestinal e, no mesmo ano, em 29 de novembro, depois de oito meses, em Fontainebleau, o Rei morria de paralisia provocada por uma queda de cavalo. Conforme relata Louis Charpentier em seu livro “Os mistérios Templários”, Nogaret, assessor legal do Rei, e que dirigiu o processo contra a Ordem, morria misteriosamente em 1314 e quatro “delatores”, que participaram do processo desde seu início, também morriam, apunhalados ou enforcados.
Vingança
A França entra em mau momento. Inicia-se a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra, com muitas derrotas militares que deixam o país arrasado e a fome toma conta do povo francês. Entre 1348 e 1350, a Grande Peste, ou a Peste Negra, dizima uma parte importante da população. Muitas lendas surgiram após a morte de Jacques de Molay, incluída a que o cavaleiro D’Aumont e mais sete Templários tinham recolhido as cinzas do Grão-mestre e fugido, disfarçados de pedreiros, até à Escócia. Nesse país, favorecidos pelas antigas relações da Ordem, tinham organizado uma loja com dois Capítulos: um Exterior, para difundir o ideal religioso e social dos Templários, de forma que fosse acessível ao povo, e outro Interior, para vingar a Ordem da perseguição do Rei e do Papa, incluindo na vingança os Hospitalários e os Cavaleiros de Malta, beneficiados com a distribuição dos bens dos Templários. Segundo alguns autores, esta Ordem seria a origem dos Altos Graus Escoceses Maçônicos, o que carece de provas históricas, já que tratando-se de maçonaria tudo sempre estará envolto em mistério. Na segunda metade do século XVII, as sociedades secretas multiplicaram-se na Europa. Inúmeras personagens circulavam pelo continente em serviços secretos, sendo um deles o famoso e misterioso José Balsamo, que fazia-se chamar Conde de Cagliostro. Quando Cagliostro foi iniciado na seita Os Iluminados, em Frankfurt, foi-lhe confiado um velho manuscrito chamado “Nossos Grandes Mestres os Templários”. O mesmo Cagliostro tinha um signo secreto com as iniciais L P D (Liberdade Povo Dever), mas que tinha um significado oculto que lembrava a vingança ditada cinco séculos atrás contra os herdeiros de Filipe o Belo: Lilia Pedibus Destrue (Destruir a Flor de Lys).
Na Revolução Francesa também aparece a marca dos Templários. Dizem que esta fora fruto da vingança templária à França. Discute-se que os nomes de Jacobinos deva-se a Jacques de Molay (Jacobus Molay) e não, como é conhecido comumente, homenagem ao pretendente Stuart, ou à Igreja dos antigos religiosos jacobitas ou as ideias sustentadas por Jean Jacques Rousseau. Os Jacobinos denominaram sua Assembleia como Capítulos, usava-se três iniciais misteriosas J B M, que se prestam inúmeras interpretações, sendo que os seguidores Templários diziam que correspondiam às iniciais Jacobus Burgundus de Molay. Mais uma coincidência: a Assembleia tinha designado o Palácio de Luxemburgo como residência da família real, mas os jacobinos exigiram que o Rei ficasse prisioneiro no Templo, a fortaleza dos antigos cavaleiros templários.
Diz a lenda que um homem de alta estatura e longas barbas, perseguia e matava religiosos durante a Revolução gritando: “Esta é pelos Templários”. O mesmo homem que subiu ao palanque da execução de Louis XVI e molhando as mãos no sangue do monarca guilhotinado agitou-as sobre o povo gritando: “Povo francês, eu te batizo em nome de Jacques e da Liberdade”. Segundo outros haveria gritado: “Jacques de Molay, estás vingado”.
Seja como for, a França deu-se muito mal no decorrer dessa empreitada.
Navegadores do Templo
Muitos atribuem aos Templários o impedimento da propagação do poder islâmico na Europa. Talvez a maior realização destes tenha sido o estímulo à virtude entre bravos e fortes. Muitos cavaleiros haviam adquirido muito conhecimento nos países orientais, durante as Cruzadas. Tinham descoberto que havia no Oriente uma civilização superior à que existia na mais rude sociedade do Ocidente.
As pessoas de mentalidade liberal tinham na Ordem dos Cavaleiros Templários uma espécie de refúgio. Muitos foram secretamente iniciados nas escolas de mistérios do Oriente, onde lhes foi revelada a tradicional sabedoria do passado. Muitos ingressaram na Ordem porque, dentro de seu controle de influência e proteção, podiam estudar e desenvolver um conhecimento que não ousavam desenvolver fora dessa esfera. Estes cavaleiros tiveram coragem de investigar os campos de conhecimento que suas incursões por países orientais haviam possibilitado. E esse conhecimento ultrapassava as limitadas fronteiras de investigação da Igreja.
Ocorre que quando o Rei Filipe buscou “o Tesouro do templo” a frota templária já havia partido. Esta manteve-se em Portugal, na Escócia, na Inglaterra e na Suíça. É interessante notar como o sistema bancário se desenvolveu fortemente em território suíço. Antes desta época não há registros de existência do famoso sistema bancário deste país, até hoje utilizado.
O Templários construíram, especialmente na França, uma rede de bem cuidadas estradas, que beneficiou o desenvolvimento de todas as atividades econômicas do país. A qualidade das estradas unia-se à segurança dada por eles especialmente nas proximidades de suas propriedades. Observando um mapa destas vias percebe-se que seis grandes estradas desembocam ou partem de La Rochelle e distribuem-se pela França inteira. O intrigante é que La Rochelle não existia como porto oficialmente reconhecido naquela época e nem sequer como cidade, mas os Templários tinham ali uma casa provincial que dirigia suas atividades nessa parte da costa atlântica.
Eles possuíam uma frota poderosa, cuja atividade militar concentrava-se no Mediterrâneo e por tanto as bases poderiam ser em Valença ou em Barcelona. Mas, então, por que um sistema viário tão importante partiria de La Rochelle no atlântico?
Quando surgiu a Ordem dos Templários, a prata era escassa, as moedas eram feitas de ouro e bronze. No fim da Idade Média, a moeda de prata passa a ser de uso corrente. De onde surgiu toda essa prata? A Europa tinha umas poucas minas de prata na Alemanha, mas que ainda não estavam sendo exploradas. As abudantes minas de prata estão na América, que ainda não tinha sido “descoberta” por Cristovão Colombo. No Oriente, por exemplo, a prata era mais apreciada que o ouro.
Os Templários conheciam o valor da prata no Oriente. Suponhamos que eles sabiam ou descobriram que no local que hoje conhecemos como América existia prata em abundância. É fato amplamente conhecido que marinheiros normandos navegavam até a América bem antes de Colombo.
Então os Templários montaram uma frota, construíram um porto em um local desabitado, longe de olhares intrusos, dotam-no de estradas e começam a trazer a prata da América, que compete com o ouro, para criar um novo padrão financeiro sob seu controle que iria reforçar o sistema bancário também montado por eles para facilitar transações comerciais e outros empreendimentos dentro da Europa. Alguns dizem que eles iam até Argentina, Paraguai e Bolívia e teriam construído um porto em Santa Catarina. Eles retiravam prata e ouro das minas da Bolívia, desciam até o sul pelos rios e partiam do porto de Santa Catarina para La Rochelle. Essa teoria faz parte dos estudo do antropólogo alemão-argentino Jacques de Mahieu.
Como cada comendadoria possuía ouro e dinheiro em quantidade, a Ordem oferecia as vantagens de uma “letra de câmbio” evitando o transporte de dinheiro tão exposto a perigos. Esta função bancária também incluía empréstimos de grandes somas para diferentes projetos particulares, inclusive de Reis e da Igreja; também o governo central da nação utilizou os serviços bancários da Ordem para recolhimento de impostos reais em determinadas regiões.
No dia seguinte ao aprisionamento dos cavaleiros franceses, toda a esquadra templária zarpou durante à noite, desaparecendo “sem deixar registros”.
Após o Sínodo de Viena e para que os bens do Templo não caíssem definitivamente nas mãos ambiciosas do Rei da França Filipe, o Belo, o papa Clemente, teve o que sempre rareou nele: a coragem de emitir uma segunda bula, Ad providam Christi Vicarii, de 2 de Maio de 1312, atribuindo aos Hospitalários os bens dos Templários, excepto em Portugal e Espanha.
Santuário de fugitivos
“Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!”
Para muitos, Portugal seria o Santuário dos fugitivos. O Rei português D. Dinis I recebeu, assim como os outros reinos, as ordens contra os Templários. Porém, seus agentes ao ocuparem as fortalezas templárias e deram-lhes tempo para fugir. Sabiamente o Rei decidiu garantir a permanência da Ordem em terras portuguesas: sugeriu uma doação formal dos seus bens à Coroa, mas nomeou um administrador templário para cuidar deles. O processo papal e a execução do Grão-mestre Jacques de Molay, em 1314, não intimidaram. Na prática, D. Dinis agiu como protetor dos Templários, e não poderia ser diferente, já que eles estavam enraizados nas bases e pilares do país.
Nesse mesmo período era nomeado o primeiro almirante português de que há memória, apesar de Portugal não ter armada.
Em 1317, reiterando que os templários não haviam cometido crime em Portugal, D. Dinis transferiu todo o patrimônio destes para uma nova organização recém-fundada: a Ordem de Cristo. Assim, Portugal virou refúgio para perseguidos em toda a Europa. De toda parte chegaram fugitivos, trazendo consigo o que podiam. Logo, o Castelo de Tomar virou a fortaleza dos segredos que a Inquisição não conseguiu arrancar. Dois anos depois, em 1319, D. Dinis conseguia do Papa João XXII a bula Ad ea ex quibus, na qual reconheceu a Ordem de Cristo – com base na Ordem Templária, adotando por símbolo uma adaptação da cruz orbicular templária.
Dom Dinis I foi o mesmo Rei que fundou a famosa Universidade de Coimbra e estabeleceu a língua galego-português como oficial no país. Ele também fora casado com a Rainha Santa Isabel. Além disso, esse Rei extraordinário redistribuiu terras, promoveu a agricultura e fundou várias comunidades rurais, procurando que não só os camponeses e as comunidades religiosas, mas também todo o país se interessasse por esta atividade. A produção de cereais logo excedeu o consumo interno e Portugal tornou-se um reino exportador, estabelecendo relações comerciais com portos da Catalunha, Bretanha, Flandres e Inglaterra, assinando em 1308 o primeiro tratado comercial com Eduardo II de Inglaterra.
Os últimos anos do seu reinado foram marcados por conflitos internos, o herdeiro, futuro Afonso IV, receoso que o favorecimento de D. Dinis ao seu filho bastardo, D. Afonso Sanches, o espoliasse do trono, exigiu o poder e combateu o pai. A Rainha Isabel interveio na Batalha de Alvalade, para que não tivesse um pior desfecho. Resolveu ela intervir diretamente na batalha, colocando-se entre as hostes inimigas já postas em ordem de combate.
Nas primeiras décadas de existência da Ordem de Cristo, os ex-templários estabeleceram estaleiros em Lisboa, fizeram contratos de manutenção de navios e dedicaram-se à tecnologia náutica, aproveitando o conhecimento adquirido no transporte marítimo de peregrinos entre a Europa e o Oriente Médio durante as cruzadas.
Bibliografia:
Os Tribunais Secretos – Paulo Féval;
Os Mistérios Templários – Louis Charpentier;
A História da Magia – Eliphas Levi;
A verdadeira Historia dos Templários – Ordem Demolay
“História Misteriosa de Portugal” de Victor Mendanha, Edições Pergaminho, Lisboa.
“Os Templários na Formação de Portugal” de Paulo Alexandre Loução, Edições Ésquilo, Lisboa.
Revista “O Rosacruz” 3 trimestre – 2000
Revista “O Rosacruz” – 1 trimestre – 2000
“A viagem do Descobrimento” Eduardo Bueno, Editora Objetiva, Rio de Janeiro.
“Teoria Nova da Antiguidade” de Sampaio Bruno, Editora Minerva, Lisboa.
“História Misteriosa de Portugal”de Victor Mendanha, Editora Pergaminho , Lisboa.
“História Secreta de Portugal”de Antonio Telmo, Editora Vega, Lisboa.