Que a gasolina está cara, todo mundo já sabe. Mas o que muitos só têm passado a nota agora, na busca por uma alternativa mais barata, é que o etanol também vem numa escalada de preços.
O combustível feito da cana-de-açúcar subiu 17,5% nas bombas nos últimos 90 dias no Espírito Santo e está sendo comercializado a R$ 4,30 em média.
Entre o distribuidor e o posto, a diferença foi ainda maior, com 20,5% no período. O avanço do preço do etanol foi concentrado principalmente em fevereiro. Enquanto a gasolina subiu 8,5% nos postos do Estado no mês passado, o preço do álcool cresceu 11,4%.
Acontece que, diferente da gasolina, o álcool tem pouca relação com a oscilação do dólar e não segue a cotação do barril de petróleo no mercado internacional, já que é feito a partir da cana plantada no país.
Segundo representantes do setor sucroalcooleiro, a alta no preço do etanol tem algumas explicações. A primeira delas tem, indiretamente, relação com o câmbio. Isso porque a alta da moeda americana tornou a produção de açúcar mais vantajosa para as usinas do que o álcool.
O açúcar, por ser uma commodity destinada à exportação, tem valor cotado em dólar.
“Na realidade, com esse dólar caro, o Brasil exportou muito açúcar, muito de tudo. O álcool passou um tempo com preço muito baixo por conta da Covid, então quem podia preferiu produzir açúcar. E aí veio esse aperto no mercado interno”, afirma o diretor-presidente da Usina Lasa, Carlos Beltrão. A empresa é uma das três que produz etanol no Estado.
Nerzy Dalla Bernardina Junior, diretor-superintendente da Alcon, concorda. Ele, que fabrica os dois produtos, afirma que, no ano passado, apenas 30% da produção da usina foi de etanol e o restante foi açúcar. Nos anos anteriores, essa proporção era de 50% de cada.
Outro ponto também apontado por Nerzy para a alta do preço é a entressafra da cana. Ele destaca que a região Centro-Sul do país ainda não voltou a produzir e, por isso, as usinas estão paradas. Ou seja, o etanol comercializado no momento, foi produzido até outubro do ano passado.
O que leva à próxima justificativa do setor para a alta dos preços: o crescimento da demanda.
Carlos Beltrão
Diretor-presidente da Lasa
“Todo mundo, a partir do fim de 2020, resolveu abastecer com o álcool porque, mesmo caro, estava menor que o preço da gasolina. Com as usinas todas paradas, a correria por álcool foi grande”
O setor afirma que a falta de incentivo do governo e a alta tributação desencorajam os produtores a investirem no etanol, o que provoca escassez do produto em momentos de alta da gasolina e faz o preço subir.
TRIBUTAÇÃO DO ETANOL NÃO MUDOU, MAS SETOR LUTA POR REDUÇÃO
Segundo o secretário da Fazendo da Espírito Santo, Rogelio Pegoretti, existe uma demanda histórica dos produtores de álcool pela redução do ICMS sobre o produto para que o preço baixe e o consumo seja incentivado.
“O caso atual mostrou exatamente o contrário. Porque o aumento do preço da gasolina deveria fazer com que a diferença do preço ficasse maior entre os dois combustíveis, mas o que se observou na prática foi aumento do preço do álcool para companhar o da gasolina, mantendo a mesma proporção”, disse.
O secretário afirmou ainda que não houve qualquer alteração que diz respeito à tributação de álcool nas últimas semanas. “Esse aumento de preço que temos identificado algo que deve ser explicado pelos diferentes elos na cadeia de distribuição e produção quantos aos seus custos ou políticas de preços.”
A Secretaria de Estado da Fazenda mantém um monitor dos combustíveis com dados diários sobre o preço médio praticado no Estado, seja nos postos ou nas distribuidoras.
Há ainda o aplicativo Menor Preço que conta com um módulo exclusivo de combustíveis que ajuda o consumidor a encontrar o posto com o preço mais vantajoso.
ÁLCOOL CARA TAMBÉM IMPACTA PREÇO DA GASOLINA
A alta do álcool, inclusive, “respinga” no preço da gasolina vendida nos postos. A gasolina comum é composta 27% do derivado de cana. “Um produto que poderia nos salvar internamente (da alta da gasolina) está em falta”, diz Nerzy.
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista dos Derivados de Petróleo do Estado do Espírito Santo (Sindipostos-ES), o etanol anidro, que é adicionado na gasolina, sofreu diversos aumentos ao longo dos últimos dias. “O preço do produto na usina teve um aumento de 27,3% em menos de 30 dias”, informou em nota.
Fonte: gazeta online