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Perfil de suspeito de ataque ao Porta dos Fundos é conhecido pela polícia

Ex-mulher relatou ameaças e agressões em depoimento, mas depois voltou atrás.

O Fantástico deste domingo (5) traçou um perfil de Eduardo Fauzi, o suspeito identificado pela polícia do Rio como participante do ataque à produtora do canal Porta dos Fundos no dia 24 de dezembro. A vida pregressa do empresário inclui 12 passagens na polícia – uma com condenação – e habilidade em dança.

Esta semana, a TV Globo revelou que Fauzi embarcou para a Rússia, onde tem uma namorada, no dia 29 de dezembro.

Fauzi é bem conhecido nos bailes de zouk, uma dança de salão de origem caribenha que se espalhou pelo mundo. Nas redes sociais, aparece em fotos e vídeos dançando em vários países.

Entre os amigos, ele gosta de ser chamado de “o rei do mambo” e costuma andar sempre em grupo. “Ele tem um grupo específico. Vai geralmente para as festas com esse grupo, socializa com esse grupo e vai embora com esse grupo”, disse uma frequentadora de eventos de zouk.

Eduardo Fauzi Richard Cerquise tem 41 anos, é formado em economia pela UFRJ e atualmente é considerado foragido da Justiça.

“É uma pessoa com o perfil agressivo, violento. Uma pessoa perigosa”, disse o delegado Marco Aurélio de Paula Ribeiro, que investiga o ataque à produtora.

A dançarina de zouk, que prefere não se identificar, disse ao Fantástico que hoje Eduardo não é muito bem visto entre os frequentadores dos bailes do estilo musical, por ter comportamentos homofóbicos.

“Já tiveram algumas afirmações do tipo: ‘Ah, o zouk tá virando um gueto gay, eu nunca vou me esfregar em outro homem’. Esse tipo de afirmação que ele fazia nas redes sociais”, disse ela.

Fauzi foi identificado como um dos cinco criminosos que atacaram com coquetéis molotov a sede da produtora do canal Porta dos Fundos no Rio de Janeiro.

A produtora tem sido criticada nas redes sociais por vários grupos cristãos pela maneira como retratou Jesus no especial de natal de 2019, um programa de humor, exibido na Netflix. O filme insinua que Jesus teve uma experiência homossexual após passar 40 dias no deserto.

Fauzi é filiado ao PSL desde 3 de outubro de 2001. A TV Globo entrou em contato com o partido, mas não obteve retorno.

Durante o ataque, Fauzi era o único suspeito que chega a deixar o rosto descoberto. Cinco dias depois, ele foi identificado pela polícia e teve a prisão decretada. Mas já era tarde. Ele já havia saído do Brasil em direção à Rússia. Uma fuga premeditada, como ele afirmou em uma entrevista ao site do projeto Colabora.

“Achavam que fui muito estúpido para não cobrir o rosto e não alterar a voz, mas fui conectado o suficiente pra ser avisado do mandado de prisão a tempo de viajar pra fora do país”, disse Fauzi.

Eduardo Fauzi tem uma vasta ficha criminal: doze passagens pela polícia. É investigado pela prática de crimes como ameaça, lesão corporal e formação de quadrilha. Em 2013, foi acusado de manter um estacionamento irregular no Centro do Rio de Janeiro. E mostrou seu temperamento agressivo durante uma fiscalização da prefeitura, ao agredir pelas costas o então secretário municipal de Ordem Pública do Rio, Alex Costa, enquanto ele dava uma entrevista.

“No momento eu fiquei ali sem visão, sem audição”, lembra Alex. “Eu não tava esperando aquilo. Foi um soco por trás, então foi um ato covarde da parte do sujeito”.

Na época, Eduardo Fauzi fez questão de mostrar que não tinha se arrependido. “Foi a tapa (sic) mais bem dada que eu já pude dar na minha vida”, disse ele.

“Aquele tapa não foi na minha cara só. Eu acho que foi um desrespeito à sociedade, às pessoas de bem”, diz Alex Costa.

Fauzi foi processado por agressão pelo tapa. O crime prescreveu antes que ele fosse julgado.

A única punição que ele recebeu neste caso foi pelo crime de coação. Segundo a denúncia, Fauzi ameaçou o ex-secretário para tentar forçá-lo a retirar a queixa. Condenado a quatro anos de prisão, ele recorreu e responde em liberdade.

Acusações da ex

Eduardo também já foi acusado de crimes duas vezes por sua ex-mulher, com quem teve dois filhos.

Segundo documentos obtidos pelo Fantástico, a primeira acusação foi feita em 2009. O casal estava na rua, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio, quando discutiu. Segundo consta no boletim de ocorrência, a ex mulher foi empurrada por Eduardo e começou a gritar por socorro. Os dois acabaram sendo levados para a delegacia por policiais militares.

A segunda acusação foi registrada em 2016. Depois de cobrar na Justiça o pagamento de pensão alimentícia, a ex-mulher afirmou em depoimento ter recebido as seguintes ameaças:

  • “Posso te prejudicar de várias maneiras”.
  • “Você anda muito sozinha na rua. Cuidado com o que pode acontecer com você”.

Ainda em depoimento, ela disse que “seu ex companheiro possui um comportamento muito violento, já tendo a agredido diversas vezes verbalmente e fisicamente”.

O Fantástico foi até o apartamento da ex-mulher de Fauzi. Apesar dos registros na polícia, disse que nunca foi agredida pelo ex-marido.

Mais tarde, o advogado dela enviou uma nota, onde diz: “Nunca houve agressão física. A minha cliente se arrepende do registro policial realizado no ano de 2016”.

Apreensão

Após o ataque à produtora, na casa de Fauzi e em outros dois endereços ligados a ele, a polícia apreendeu R$119 mil, duas armas de brinquedo, facas, e uma camisa de uma associação que se diz nacionalista.

Segundo a polícia, Fauzi é um comerciante e empresário. “Ele foi sócio de posto de gasolina durante muito tempo. Ele é presidente de uma associação de guardadores de veículos no centro da cidade, basicamente, a família é dona de estacionamento”, diz o delegado.

Em uma foto obtida pela polícia, Fauzi posa com um arma ao fundo, em cima da mesa. A polícia do Rio pediu ao Ministério da Justiça para incluir o nome dele na lista de procurados da Interpol.

Na entrevista ao site do Projeto Colabora, Eduardo Fauzi disse que vai pedir asilo político para a Rússia.

“Infelizmente ele está solto, oferecendo um risco pra sociedade. Aconteceu comigo, aconteceu com outras pessoas e pode, com a fuga dele, estar acontecendo com outras outras pessoas por aí”, avalia Alex Costa.

Já a dançarina ouvida pelo Fantástico diz que o meio da dança zouk tem medo de ser associado a Eduardo.

“É uma comunidade pequena, é uma comunidade que prega o social. É estranho a gente saber que uma pessoa que estava ali do nosso lado seria capaz de fazer coisas que a gente nem imagina”.

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