O que poderia discorrer num terreno em que todos os discursos esfacelam seu impacto? O que poderia dizer num momento em que as pessoas não estão inclinadas a ouvir, apenas a beber o cálice da angústia diante de uma perda tão dolorosa? Que palavras às aliviariam? Ainda mais vindas de mim.
Eu passei esse drama quando perdi meu pai. Os pêsames não me aliviavam, nem, muito menos, os conselhos pré-fabricados. Todas as palavras de conforto apenas faziam ranhura nas barras de aço que me encarceravam. Teria preferido o silêncio dos abraços ou apenas algumas lágrimas que chorassem comigo.
Não peço que cada um silencie sua dor, mas que silencie o desespero. Não espero que estanque suas lágrimas, mas estanque os altos níveis de angústia. Sabemos de que a saudade nunca será resolvida.
O amigo Zé Rubens viveu momentos incríveis, chorou, amou, se encantou, perdeu, conquistou. Nós estamos aqui tristes com sua ausência, mergulhados num sentimento de vácuo existencial, mas nunca podemos deixa-lo morrer no único lugar em que ele tem de continuar vivo. Dentro de nós.
Que marca Zé Rubens deixou em suas emoções? Onde ele influenciou seus caminhos? Que reações marcaram sua maneira de ver a vida? Que palavras e gestos perfumaram seu intelecto? Onde esse homem, agora silencioso, ainda grita nos recônditos de suas histórias?
O Zé está vivo ou morto dentro de nós?
Pouco antes de Jesus ser morto, uma mulher, de nome Maria Madalena, amando-o, derramou sobre ele o mais caro dos perfumes. Era tudo o que ela tinha. Ao ungi-lo com seu perfume, ela queria elogiá-lo por tudo o que ele fez e viveu, e ele ficou tão emocionado que a elogiou por seu gesto magnânimo, enquanto os discípulos a repreendiam porque desperdiçara um perfume valiosíssimo, que poderia ter outras finalidades.
Censurando os discípulos, ele lhes disse que os estava preparando para sua morte, e que onde a sua mensagem fosse propagada o gesto dela seria contado como um memorial eterno.
Quando iniciei esta escrita, pensei em fazer uma homenagem, tentar acalentar os amigos e familiares que, nesta oportunidade, deixo os meus sinceros pêsames. Contudo, também, queria me referi como um discípulo do meu amigo Zé Rubens, mas não posso, neste cenário, me dá a honra de me colocar a uma posição tão elogiosa ao lado de um Mestre honrado como o Zé foi.
Então, tive um momento de pausa aqui e lembrei de que no término dos meus tempos escurecidos, condenado as pedras da sociedade, Zé veio no chão das redes sociais e com coragem, desenhou os meus primeiros elogios e de minha família.
Depois disso, assumi posições de destaques e restabeleci a uma posição que me encontro até hoje com diversos elogios em redes sociais e outros formais por instituições diversas, mas o Zé foi o primeiro que teve a coragem de falar das qualidades de uma pessoa que tinha a moral agatanhada, teve a sensibilidade de olhar nos meus olhos e apostar a sua inabalável moral em mim.
O mestre em história fez lembra o MESTRE dos MESTRES e, por isso, deixei de aqui me colocar na posição de seu discípulo para ser quem derrama sobre ele nestas linhas, o mais caro dos perfumes. O amor e as lembranças dele guardados em mim.
O Zé nunca morrerá dentro de mim! Nunca morrerá dentro de nossa família! Não contemplam flores onde as sementes não morreram.
Meu mestre Zé, você se foi e este está sendo um momento de lágrimas, mas acima de tudo é um momento saturado de elogios e recordações solenes. Você se foi Zé, mas faço de meu luto uma lembrança perfumada, uma homenagem para quem, na verdade, não partiu.
Uma lembrança para contar seus gestos, declarar suas reações, comentar suas palavras. A maioria dos seres humanos tem algo para ser declarado. Assim, deixo um apelo: Por favor, contem os feitos desse homem! Declarem o significado dele na vida. Seu silêncio deve alçar vôo de nossa voz.
Assinado: Waguinho Lopes e Família.