O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou, em entrevista exclusiva ao Fantástico, que espera unidade no combate ao coronavírus. Na semana em que chegou a limpar as gavetas e quase deixar o cargo por divergências com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro disse que a divisão de estratégias no combate ao vírus gera “dubiedade”.
— Não há ninguém contra nem a favor de nada. O nosso inimigo é o coronavírus — afirmou Mandetta. — Esse é o nosso adversário, inimigo. Se eu estou ministro da Saúde, é por obra de nomeação do presidente. O presidente olha pelo lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura e educação, mas chama pelo lado de equilíbrio de proteção, à vida. Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento possa ser comum e termos uma ala única, unificada. Por isso leva para o brasileiro uma dubiedade: não se sabe se escuta o ministro, o presidente.
No domingo, dia em que o Brasil chegou à marca de 1.223 mortes por coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, durante uma videoconferência com lideranças religiosas, que o vírus está “indo embora”:
— Temos dois problemas pela frente, lá atrás eu dizia: o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego. Devemos lutar contra essas duas coisas.
A declaração foi feita horas antes da entrevista de Mandetta ao Fantástico, na semana em que Bolsonaro estimulou o desrespeito às medidas de isolamento, circulando em Brasília por farmácia, padaria e cumprimentando apoiadores nas ruas.
Mandetta passou o domingo no Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás, cujo governador, Ronaldo Caiado, rompeu politicamente com Bolsonaro por divergências sobre como enfrentar a crise. O ministro avaliou que o pico da doença deve acontecer em maio e junho:
— Em fevereiro, quando fizemos simulações com outros países, fazendo adequações para o nosso clima, mais ou menos sabíamos que chegaria a primeira quinzena de abril com esses números. Desde as primeiras projeções sabíamos que a segunda quinzena de abril e maio e junho seriam de maior estresse para o nosso sistema de saúde. Nós estamos agora vivendo o que dizemos há duas semanas atrás. Se começar novamente a movimentação nós vamos voltar ao início. A gente imagina que maio e junho serão os 60 dias mais duros para as cidades. Não se pode comparar com Espanha, Grécia, Itália. Somos o próprio continente.
Falta de testes
O ministro da Saúde também confirmou a subnotificação de casos no país e ressaltou a importância do isolamento social como uma das estratégias para conter a pandemia.
— Se não fizermos absolutamente nada e tivermos como se nada tivesse acontecendo, se a gente falar vamos todos trabalhar, deixar só quem tem mais de 60 anos em casa, como o país vai lidar com isso? — disse, acrescentando: — O problema é que a gente tem hoje um mercado concentrado e aquecido que não tem teste suficiente para o planeta. Se a gente se comprometer a testar todos os brasileiros, não seria correto frente ao mercado que a gente vê. O planeta inteiro quer o mesmo produto.
Mandetta fez críticas a filas em padarias e mercados e atribui o afrouxamento ao isolamento a um “conjunto” de coisas.
— Acho que é um conjunto, somatória. Vê na internet fakenews que isso é uma invenção de países para ganharem vantagem econômica. Outras pessoas porque existe um complô mundial contra elas, como se tivesse alguma solução com passe de mágica e que não precisasse que ninguém fizesse sacrifício. Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercado, fazendo filas uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada.