Mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus e a suspensão das aulas presenciais nas escolas, as inscrições para o Enem foram iniciadas nesta segunda-feira (11) e o ministro da educação, Abraham Weintraub, afirmou que o calendário não será alterado. Em sua rede social, o ministro sugeriu que os estudantes procurem outras ferramentas para se preparar.
Alguns parlamentares capixabas têm se manifestado contrários à decisão, entendem que a manutenção da data desconsidera a realidade dos estudantes do país, marcada por uma desigualdade que se agrava com os reflexos da pandemia. As postagens destacam que muitos estudantes não possuem acesso à internet e que dez dos 19 países que possuem provas para acesso à universidade já adiaram ou cancelaram os exames. O senador Fabiano Contarato (Rede) pediu que o Ministério Público Federal tome providências.
Weintraub chegou a dizer que o exame não foi feito para corrigir desigualdades, mas apesar da posição do Ministério da Educação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) admitiu que as provas podem ser adiadas, desde que sejam aplicadas ainda este ano. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), contou que no encontro que teve com Bolsonaro nesta quinta-feira (14) fez apenas um pedido: o adiamento do Enem.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de acordo com o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo, admite a possibilidade de flexibilização.
O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung fez uma postagem afirmando que manter a data do exame nacional vai na contramão dos princípios básicos que devem ser seguidos em meio à crise: “preservação das vidas, respeito aos sonhos dos jovens e o compromisso de não deixar ninguém para trás.”
A educação é o principal instrumento de combate às desigualdades. Com a crise, devemos respeitar três princípios básicos: preservação das vidas, respeito aos sonhos dos jovens e o compromisso de não deixar ninguém para trás. Manter o Enem, hoje, vai na contramão de tudo isso.
— Paulo Hartung (@PauloHartungES) May 13, 2020
Do Senado, Fabiano Contarato (Rede) chegou a solicitar ao Ministério Público Federal providências para o adiamento das provas. “Caso o exame seja levado a efeito, milhares de estudantes que não têm acesso à internet e, portanto, aos meios de educação a distância ficarão extremamente prejudicados”, disse em postagem nas redes sociais. O senador pede o adiamento do exame enquanto perdurar a suspensão das aulas presenciais.
Solicitei ao Ministério Público Federal, com urgência, providências para garantir o adiamento da realização ENEM, pelo Inep e Ministério da Educação, órgãos da Administração Pública Federal. pic.twitter.com/XkrhBDo9br
— Fabiano Contarato (@ContaratoSenado) May 11, 2020
Os deputados federais Felipe Rigoni (PSB) e Helder Salomão (PT), também utilizaram seus canais de comunicação para manifestar desaprovação ao calendário. No Twitter, Rigoni postou que a “a pandemia escancarou as desigualdades presentes no Brasil” e muitos estudantes continuam sem acesso à internet e materiais de estudo.
O Enem precisa ser adiado. A pandemia causada pelo novo coronavírus só escancarou as desigualdades presentes no Brasil. Milhões de estudantes continuam sem acesso a uma boa internet ou aos materiais de estudo. Seria injusto manter o calendário.
— Felipe Rigoni (@rigoni_felipe) May 13, 2020
O petista Helder Salomão questionou como os estudantes vão se preparar para fazer a prova. “A maioria dos estudantes não tem condições de acompanhar o ensino a distância, e por vários fatores. Muitos não têm acesso à internet. Não têm smartphones nem computador. Alguns nem TV têm em casa. Fora que nem todos têm acesso aos materiais escolares. Como eles irão se preparar para o Enem? Vou lutar para que o Exame Nacional do Ensino Médio seja adiado.”
Na Assembleia Legislativa do Estado o assunto veio à tona em duas sessões virtuais realizadas nesta semana. A deputada petista Iriny Lopes repudiou a permanência das datas durante a sessão realizada nesta terça-feira (12). Nas redes, a parlamentar postou um texto comparando a decisão do ministro com a realidade de outros países que possuem exames de acesso à universidade.
“De 19 países com exames de acesso à universidade semelhantes ao Enem, dez, nesta pandemia, já adiaram ou cancelaram suas provas, entre eles EUA, Espanha, China e Rússia. Portanto, o Brasil se coloca de novo como exceção negativa no mundo”, escreveu.
Na sessão seguinte, nesta quarta-feira (13), o deputado Bruno Lamas (PSB) usou seu tempo de fala para defender o adiamento e lamentar declarações do ministro da Educação. “É lamentável a fala do ministro quando fala ‘não vamos ouvir essa esquerda que não quer a realização das provas’, isso é lamentável porque a educação está acima de opiniões”, disse. Para o parlamentar, as provas deveriam ser adiadas “pelo menos até janeiro”.
Fonte: agazeta.com.br