O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta 4ª feira (18.jan.2023) como uma “bobagem” a tese de que um Banco Central independente pode “fazer mais” do que quando não havia mandatos definidos para o comando da autarquia. O seu governo é o 1º que só poderá indicar o presidente do banco na metade de sua vigência, ou seja, em 2024. O chefe do Executivo também criticou a atual meta de inflação definida pela autoridade monetária.
“Nesse país se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar. Eu posso te dizer, com a minha experiência, é uma bobagem achar que um presidente do BC [Banco Central] independente vai fazer mais do que quando o presidente era quem indicava”, disse Lula. O presidente concedeu entrevista exclusiva (apenas para um veículo, de maneira individual) ao canal de notícias por assinatura GloboNews.
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Durante a entrevista, Lula disse também duvidar que o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, seja “mais independente” do que foi Henrique Meirelles, que comandou o banco nos primeiros governos Lula. O petista criticou a atuação da autarquia na definição das metas de inflação e da política de juros, e defendeu ser preciso fazer o país crescer para distribuir renda.
“Por que o banco é independente e a inflação, os juros estão do jeito que estão? Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando você faz isso, é obrigado a ‘arrochar’ mais a economia para atingir a meta. Por que precisava atingir os 3,7%? Por que não fazia 4,5% como nós fizemos?”, disse.
O Congresso aprovou em fevereiro de 2021 a autonomia do Banco Central. Foi estabelecido um mandato de 4 anos para o presidente e diretores da instituição. O ciclo difere das eleições presidenciais justamente para, em tese, evitar uma interferência política.
Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em fevereiro de 2019 e ficará à frente da instituição até 2024. Só então, Lula poderá indicar outro presidente. O escolhido precisará ser aprovado pelo Senado e tomará posse do cargo em 1º de janeiro do 3º ano do mandato do presidente da República.
Os 8 diretores que também são indicados e passam por aprovação do Senado, assumem os cargos de forma escalonada, de 2 em 2 anos e de 1 em 1 ano, começando pelo início de um novo governo.
Leia abaixo a íntegra do que foi perguntado a Lula sobre política fiscal e a resposta completa do presidente:
Natuza Nery: “O seu governo vai apresentar em breve um novo regime fiscal, já que o senhor enxerga que a política do teto de gastos, o senhor já disse, é uma política burra. O que será colocado no lugar? O senhor já tem ideia?”
Lula: “A minha divergência é o seguinte: nesse país se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer, com a minha experiência, é uma bobagem achar que um presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente era quem indicava. Eu duvido que esse presidente do Banco Central é mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles. Por que o banco é independente e a inflação, os juros tá (sic) do jeito que tá (sic)? Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%, quando você faz isso, é obrigado a ‘arrochar’ mais a economia para atingir aqueles 3,7%. Por que precisava fazer os 3,7%? Por que não fazia 4,5%, como nós fizemos? O que precisamos nesse instante é saber o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer. E nós precisamos fazer distribuição de renda, nós precisamos fazer mais políticas sociais. Se você pegar todos os dados econômicos você vai ver que durante a pandemia, que, quem era rico, ficou mais rico. Os poderosos ficaram muito mais ricos e o povo ficou mais pobre. Então, eu fico irritado às vezes quando, qualquer problema, se discute instabilidade, instabilidade fiscal. Ninguém foi mais responsável do ponto de vista fiscal do que fui. Quero relembrar o seguinte: quando peguei essa país a inflação estava em 12% e a taxa de juros estava em 12%. A gente devia 30 bilhões ao FMI [Fundo Monetário Internacional], o Brasil tinha uma dívida interna bruta de 60,5% do PIB [Produto Interno Bruto]. O Malan ia todo final de ano em Washington ver se conseguia um dinheirinho para fechar o caixa aqui, atrás do FMI. O que fizemos nesse país? Nós entramos, estabelecemos a meta de inflação de 4,5% e cumprimos. Geramos em 8 anos quase 14 milhões de empregos, depois com o mandato da Dilma foram 22 milhões de emprego. Nós reduzimos a dívida de 60,5% para 37,7% e nós fizemos uma reserva que o Brasil nunca tinha tido de 370 milhões de dólares. E vou dizer mais, o único país do G20 que cumpriu o superavit primário todos os anos que governamos esse país. Então, não peçam para mim seriedade fiscal. Não peçam. O que eu quero é que as pessoas que querem estabilidade fiscal tenham estabilidade social. Assume compromisso com o social porque não é possível esse país ter gente na fila do osso para pegar carne, não é possível esse país ter 30 milhões de pessoas passando fome, não é possível. Você sabe quantos anos que o funcionário federal não recebe aumento? Sete anos.”
LULA E A GLOBO
A relação do governo tem sido amistosa com os veículos de comunicação do Grupo Globo.
A primeira entrevista exclusiva de Lula foi para a emissora de TV a cabo paga GloboNews. A audiência de emissoras de notícias no Brasil flutua na faixa de 0,3 ponto percentual na medição da empresa multinacional Kantar (que no Brasil comprou o Ibope). Isso equivale a aproximadamente 200 mil pessoas assistindo.
No último domingo (15.jan.2023), as imagens das câmeras de segurança do circuito interno do Planalto, com os arquivos dos atos de vandalismo do 8 de Janeiro, foram entregues com exclusividade para o programa Fantástico, da Globo. Essas imagens são um bem público e pela Lei de Acesso à Informação qualquer pessoa poderia ter acesso. Mas só na 2ª feira (16.jan) outros veículos de comunicação receberam cópias dos vídeos, 24 horas depois da Globo. O Poder360 fez esta reportagem a respeito.
A primeira-dama, Janja Lula da Silva, também mantém uma rotina de conversas com empresas do Grupo Globo. Até agora, já atendeu aos funcionários da empresa fluminense de mídia 6 vezes desde a eleição do marido:
- Fantástico (13.nov.2022) – Janja gravou uma longa entrevista na suíte de cobertura do Hotel Emiliano, em São Paulo. Falou com as apresentadoras do programa dominical, Poliana Abritta e Maju Coutinho;
- Altas Horas (8.dez.2022) – ficou na plateia do programa que teve uma homenagem ao cantor e compositor Milton Nascimento;
- Vogue (1.jan.2023) – deu entrevista à revista especializada em moda, também do Grupo Globo, para comentar a roupa escolhida para a posse presidencial e sua postura como primeira-dama;
- Palácio da Alvorada (5.jan.2022) – num passeio amigável pelo edifício que serve de moradia para presidentes da República, a primeira-dama recebeu a GloboNews para reclamar de tapetes puídos, poltronas com rasgos e rachaduras no teto de gesso. O substrato da reportagem era sugerir que o presidente anterior, Jair Bolsonaro, haveria deixado o local inabitável;
- Fantástico (15.jan.2022) – no mesmo dia em que o programa dominical mostrou com exclusividade as imagens da depredação do Planalto, a emissora também teve nova entrevista com Janja reclamando que seu gabinete na sede do Executivo também havia sofrido avarias.
Esta reportagem receberá mais informações.
Lula diz ser “bobagem” achar que BC independente pode “fazer mais”
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