Os três jovens capixabas que foram vítimas de preconceito racial em uma postagem realizada no Instagram no início da semana, decidiram levar o caso à polícia. A notícia-crime contra o autor da publicação, identificado como Lucas Almeida, foi feita na manhã desta sexta-feira (16), na Delegacia de Repressão aos Crimes Eletrônicos (DRCE), em Vitória.
Segundo o delegado dos jovens, Amarildo Santos, será instaurado um inquérito policial para investigar a conduta de Lucas e a expectativa é que o trabalho seja concluído o mais breve possível.
“Nós vamos entrar também com uma ação civil de danos morais e a expectativa é que a polícia termine logo o trabalho para que a conduta não fique impune porque não podemos aceitar isso. Não importa se ele estava brincando ou não. Não se brinca com a dignidade das pessoas”, afirmou.
De acordo com o delegado, se Lucas for condenado, a Justiça pode determinar que ele cumpra a pena prestando serviços sociais, além de responsabilizar as três vítimas.
“Infelizmente as penas do crime de racismo e calúnia são pequenas, mas de qualquer forma ou outra ele pode ser condenado à prestar serviços sociais e pode ser condenado a responsabilizar os três. Mas o objetivo não é esse, não estamos indo atrás de ressarcimento. Quando ele fez aquilo, atingiu toda a coletividade, então não pode ficar assim”, concluiu o advogado.
Caso
Tudo começou quando os rapazes foram abordados por um outro jovem em um bloco de Carnaval que acontecia em Vitória, na última segunda-feira (12). Ele pediu para tirar uma foto e, por não saberem do que se tratava, os meninos posaram junto com ele para a ‘selfie’.
Um dia depois, descobriram que a imagem estava circulando nas redes sociais com a frase ‘vou roubei seu celular’, que faz referência a um meme da internet e dá a entender que a pessoa em questão tem o perfil de quem comete furtos e roubos.
Após ter conhecimento da foto, Iarley Duarte, que é um dos jovens que estava na foto, fez uma publicação em repúdio à legenda colocada na foto. Segundo ele, o autor da postagem pediu para tirar uma foto com os três amigos, que, mais tarde, se depararam com a publicação. “Infelizmente ninguém está livre do racismo e do preconceito”, escreveu.
Pronunciamento
Um dos sócios da empresa na qual o autor da postagem é estagiário, usou a página da empresa para se pronunciar sobre a polêmica. Na publicação, Fabrício Affonso, que afirmou ser negro e nascido em um bairro de periferia do município de Alegre, sul do Espírito Santo, destacou que é ‘inadmissível a conduta de qualquer funcionário da empresa’ quando se trata de preconceito.
“Conheço meus funcionários a nível pessoal, e acredito que a postagem tenha sido profundamente infeliz, beirando a ingenuidade, mas novamente, a empresa não pode compactuar com esse tipo de comportamento irresponsável e muito menos responder por ele”, escreveu Fabrício.
Entrevista
Em entrevista ao Programa Fala ES, da TV Vitória, o rapaz afirmou que constantemente lida com situações racistas, mas que, dessa vez, a situação passou dos limites. “Infelizmente, no país em que vivemos, ainda temos que lidar com o racismo só porque somos pobres, pretos e moradores de periferia”, lamentou.