O Espírito Santo já vacinou mais de 2 milhões pessoas com, pelo menos, a primeira dose da vacina contra covid-19. A informação é do Painel de Vacinação do Governo do Estado. Além disso, a expectativa da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) é de que o Estado receba aproximadamente meio milhão de doses de imunizantes neste mês.
Mas, apesar do avanço da imunização, a taxa de transmissão da doença, de acordo com relatório semanal do Imperial College, de Londres, não sofre uma queda significativas no país.
Existem, segundo especialistas, dois grandes motivos para isso acontecer: o aparecimento da variante Delta e o fato de as pessoas imunizadas seguirem transmitindo a doença.
Vacinas protegem apenas contra forma grave da covid
Na última semana, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), do governo dos Estados Unidos, apresentou um relatório sobre a preocupação de que pessoas vacinadas podem transmitir a doença da mesma forma que as não imunizadas.
A explicação é que os imunizantes contra a covid-19 não impedem que o indivíduo contraia a doença, apenas que fiquem em estado grave.
“A vacina é muito mais eficaz contra doença sintomática do que contra a assintomática ou sintomática com sintomas muito leves. Vemos redução muito importante nos casos com sintomatologia intensa, mas podem ainda ocorrer, com certa frequência, pacientes com sintomas sutis, e essas pessoas transmitem”, explica o infectologista Carlos Fortaleza, professor da Unesp.
“A questão é que temos de lembrar que nenhuma vacina é 100% eficaz, principalmente em relação às infecções pouco sintomáticas, elas ocorrem em pessoas vacinadas”, acrescenta ele.
Crescimento de casos da variante Delta no país preocupa especialistas
A evolução da Delta no país também gera uma preocupação ainda maior, uma vez que estudos mostram que a proteção das vacinas, no caso da nova variante, só é efetiva a partir da aplicação de duas doses dos imunizantes.
“Precisamos ter mais de 50% da população brasileira com a segunda dose. As vacinas podem impedir as formas graves da doença. Estudos dos Estados Unidos e Reino Unido tem mostrado eficácia também contra os casos graves da variante Delta. Elas podem diminuir muito as hospitalizações e óbitos quando aplicadas as duas doses”, afirma a farmacêutica Soraya Samili, farmacêutica, professora de farmacologia da Unifesp e coordenadora do centro SOU_Ciência.
Fortaleza alerta, ainda, que as pessoas imunizadas têm de prestar ainda mais atenção à qualquer alteração física, já que a doença pode ser praticamente imperceptível.
“O grande problema é a entrada da variante delta com os brasileiros com uma dose só. Mesmo assintomático, muitas vezes ele nem vai procurar o médico porque estará com um pequeno resfriado, mas vai transmitir para um idoso, que pode ter quadro grave e morrer. Mesmo depois de estar vacinado, precisa ficar muito atento aos pequenos sintomas respiratórios. Pode ser uma covid, que pode ser mais leve, mas ainda sim é transmissível”, diz ele.
Variante delta ainda não é predominante no ES
No Espírito Santo, segundo o secretário estadual de saúde, Nésio Fernandes, a variante delta não é predominante. “Até o momento, não há indícios de circulação dessa variante no Espírito Santo. Isso pode mudar com as amostras enviadas para a Fiocruz” disse o secretário.
Mas, o secretário considera que a confirmação é uma questão de tempo.
“Nós já identificamos a variante Delta em vários estados vizinhos, e existe uma circulação plena, livre, sem o devido controle dos aeroportos, sem uma estratégia nacional robusta de testagem em massa. Por issoé muito factível que a variante delta já tenha circulação comunitária no Estado”, explicou Nésio.
Diminuir circulação do vírus ajuda a evitar novas variantes
Além da diminuição do número de casos, a manutenção do ritmo de transmissão da covid preocupa os profissionais da saúde, porque facilita o surgimento de novas variantes ainda mais fortes, que podem escapar das vacinas.
“No Brasil, hoje, precisamos de uma força-tarefa para vacinar todo mundo. A proteção contra a covid não é individual e sim coletiva. Se muita gente está vacinada, o vírus circula menos e protege todo mundo. Não podemos esquecer que quanto mais temos circulação do vírus, mais dá oportunidade para o vírus se modificar”, observa o infectologista.
Soraia concorda e completa: “Se o vírus seguir circulando muito, podem surgir novas variantes, talvez até mais fortes do que a Delta. Essa é a questão do momento entre os especialistas e cientistas: diminuir a circulação”, salienta ela.
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Uso de máscara é fundamental
Diante da possibilidade de transmissão após imunização, o crescimento de casos com a nova cepa e da baixa porcentagem da população totalmente vacinada, as medidas não-farmacológicas, como o uso de máscaras contínuo, seguem essenciais para diminuir a circulação do SARS-CoV-2 e suas variações.
“O controle do vírus tanto com vacinas, quanto por medidas não farmacológicas, como uso de máscara, não sair de casa, parece que foi esquecido pela população. Esse tipo de controle, diminui o surgimento de variantes, que só surgiram em lugares que estavam com a situação descontrolada e caótica”, lembra Fortaleza.
Soraya também observa a necessidade da imunização completa. “A segunda dose é extremamente importante e temos de salientar que devemos seguir usando a máscara. A vacina previne contra a forma grave e a máscara evita a transmissão. O importante é vacinar e usar proteção. Temos de seguir isso religiosamente.”, conclui a farmacêutica.
Fonte: FV