O Conselho Regional de Química (CRQ) do Estado vai pedir ao Ministério Público Estadual e Federal a suspensão dos túneis de desinfecção que foram instalados na Serra, na semana passada. A informação foi dada pelo presidente regional do CRQ-ES, Alexandre Vaz Castro.
Segundo Alexandre, não há comprovação científica de que os túneis tenham eficácia no combate ao coronavírus.
São sete túneis na Serra: nas unidades de pronto atendimento (UPAs) de Castelândia, Carapina e Serra-Sede; nos terminais de Carapina, Laranjeiras e Jacaraípe, além de uma unidade itinerante, para percorrer bairros da cidade.
Na edição de sexta-feira passada, a reportagem de A Tribuna noticiou que, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há literatura científica e nem recomendação de organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre a prática de desinfecção de roupas em túneis.
“Estou encaminhando para o Ministério Público Federal e Estadual uma nota de condenação da utilização desses túneis, que não têm eficácia comprovada, e encaminhando em anexo a nota técnica da Anvisa, solicitando, oficialmente, que haja a interrupção, imediatamente, de utilização dessas cabines”, afirmou Alexandre Castro.
O Conselho também vai pedir à Prefeitura da Serra que apresente documento que comprove a permissão para uso do equipamento.
“Vamos solicitar a documentação comprobatória dessa contratação e desse equipamento, o nome do químico responsável e a permissão da Anvisa para que o equipamento seja usado”, disse.
Na semana passada, o secretário de Saúde da Serra, Alexandre Viana, explicou que no interior do túnel são ativados dispositivos que pulverizam o desinfetante com ação antimicrobiana. Tem como princípio ativo o dióxido de cloro (CLO2), estabilizado em solução aquosa a 7%.
Em nota, a Anvisa destacou que o uso dessas estruturas pode produzir efeitos adversos à saúde, pois os produtos químicos supostamente utilizados foram aprovados para desinfecção exclusiva de superfícies, não de seres humanos.
O outro lado
“Não é tóxico”
A Prefeitura da Serra informou que utiliza nos túneis o dióxido de cloro a 7%, um produto que mata bactérias, vírus e fungos, não tóxico e que não agride o meio ambiente.
“É aprovado por laboratórios internacionais reconhecidos pela Anvisa. Os túneis serão mantidos para combate à propagação ao coronavírus”, afirmou.
Alerta para lesões de pele e pulmão
O uso de produtos químicos, como o dióxido de cloro, em túneis da Serra, para desinfecção de pessoas e roupas, pode causar mal à saúde. Inflamações de pele, lesões respiratórias e nos olhos são alguns dos problemas provocados pelo contato com as substâncias, segundo médicos.
A dermatologista Juliana Drumond explicou que, dependendo a concentração em que for usado, o dióxido de cloro pode causar irritações ou dermatites, principalmente, em pessoas alérgicas.
O cirurgião oftalmológico Cesar Ronaldo Filho, do Hospital de Olhos de Vitória, afirmou que o nível de toxicidade de um produto está relacionado à concentração e ao tempo de exposição.
“Pelos estudos disponíveis, acredito que as pessoas que passarem por ali esporadicamente não terão problemas. O perigo relacionado à saúde dos olhos pode surgir se houver uma exposição a concentrações mais altas ou por um longo período de tempo ao dióxido de cloro”.
A infectologista Rubia Miossi ressaltou que substâncias como o hipoclorito de sódio podem causar irritação nas vias áreas superiores, nariz, pulmão e brônquios, causando bronquite ou pneumonite química (pneumonia por irritação química local), que são bastante graves. “ Além de ter riscos, não há comprovação da eficácia dos túneis”, destacou.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) somente recomenda a utilização desses produtos sobre superfícies e reforça que, caso alguém sofra lesões devido às substâncias, o responsável da ação poderá responder penal, civil e administrativamente.
O infectologista Moacir Soprani destacou que quanto, à lavagem de roupas, a recomendação é que seja feita com água e sabão.
FONTE:tribunaonline.com.br