Conflito no Saara Ocidental Persiste em Meio a Disputas Históricas e Humanitárias
Uma região árida e situada no extremo ocidente do deserto do Saara continua a ser objeto de intensa disputa entre o Marrocos e a Frente Polisário, uma guerrilha armada que tem na Argélia seu principal aliado. Com uma área de cerca de 266 mil quilômetros quadrados, equivalente ao Piauí, o Saara Ocidental abriga ao todo aproximadamente 600 mil habitantes, que enfrentam as consequências de um conflito que se arrasta há mais de cinco décadas. Os habitantes saarauís vivem sob a sombra de uma guerra considerada de baixa intensidade, a qual tem desestabilizado a região do Magreb africano.
O conflito atual se origina nos anos finais da colonização espanhola, em 1973, e completou 52 anos neste mês de maio. A Frente Polisário, que autoproclamou a República Árabe Saarauí Democrática (RASD) após a saída das tropas espanholas em 1976, entrou em confronto direto com o Marrocos. Este último assumiu o controle da região, desencadeando uma guerra que durou 16 anos e terminou em 1991 com a assinatura de um acordo de cessar-fogo mediado pela ONU, o qual previa a realização de um referendo que nunca chegou a ser realizado devido a divergências sobre as regras e os elegíveis para votar.
As Nações Unidas clasificam a região como “não autônoma”, um status que implica que o povo saarauí ainda não alcançou um nível completo de autogoverno. Atualmente, estima-se que cerca de 173 mil pessoas tenham sido deslocadas para campos de refugiados em Tindouf, Argélia, onde 88% dos refugiados sofrem de insegurança alimentar e 11% das crianças apresentam desnutrição aguda, de acordo com dados de 2024.
Fim do Cessar-fogo e Repercussões Humanitárias
Em 2020, a Frente Polisário anunciou a retomada da luta armada, após incursões militares do Marrocos em áreas de segurança. Apesar de o conflito ser classificado como de baixa intensidade atualmente, o aumento de incidentes entre as forças envolvidas representa um risco de escalada. O último relatório da Missão da ONU para o Saara Ocidental em outubro de 2024 relatou diversas ocorrências que exigem atenção urgente para evitar uma nova escalada.
A ONU e outras organizações internacionais têm manifestado preocupação com o estado humanitário da região, que já é marcada por um histórico de desestabilização. Segundo estimativas, 60% dos refugiados saarauís são economicamente inativos, o que agrava ainda mais a crise humanitária. As potências do Conselho de Segurança da ONU não reconhecem a RASD, enquanto a Frente Polisário é apoiada por países como África do Sul, Cuba e México, entre outros.
Apoios e Conflitos de Interesse
A situação é marcada não apenas por um embate militar, mas também por interesses geopolíticos complexos. Em 2020, os Estados Unidos, em um acordo com o Marrocos, reconheceram o Saara Ocidental como parte do país em troca da normalização das relações do Marrocos com Israel. Este movimento foi seguido por um apoio crescente ao plano de autonomia limitada proposto pelo Marrocos por partes de países como Espanha e França, gerando tensões com a Argélia, que vê tal reconhecimento como uma violação do direito internacional.
Entidades e acadêmicos, como o historiador marroquino Mohammed Nadir, apontam a influência da Argélia no conflito e caracterizam a luta como uma guerra artificial, alimentada por rivalidades regionais. Ele argumenta que esses eventos refletem um contexto mais amplo de disputas por hegemonia na região do Magreb.
Neste cenário de fragilidade e incerteza, a luta pelo reconhecimento argentino pelo Saara Ocidental e a pressão por justiça social e independência continuam a ser temas relevantes e testemunhados globalmente, incluindo atos de apoio realizados em Brasília. A complexidade da situação evidencia a necessidade de um diálogo pacífico e sustentável, visando a uma resolução que leve em conta os direitos e anseios do povo saarauí.
Entenda o conflito no Saara Ocidental que opõe Marrocos e Argélia
Fonte: Agencia Brasil.
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