Com respaldo de Lula, um potencial rival eleitoral, e de personalidades que outrora orbitaram PT e Marina Silva, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, lançou neste sábado (3) sua pré-candidatura à Presidência, com a líder indígena Sonia Guajajara de vice.
Ele se filiará ao PSOL nos próximos dias, e o partido deve oficializar sua chapa em sua convenção nacional, no dia 10 de março. A mensagem de Lula, transmitida em telão, martelou a ideia de que Boulos é um bom quadro político -para o futuro.
“Você sabe o quanto eu te respeito, o quanto gosto de você pessoalmente e quanto acho você uma pessoa de muito futuro na política. Jamais vou pedir para você não ser candidato”, afirmou o ex-presidente, que depende de decisões judiciais para disputar o Planalto.
O petista definiu o neófito eleitoral como “uma pessoa nova, que tem futuro, que pode se projetar”. Também citou a pré-candidata Manuela D’Ávila (PC do B), mas ignorou Ciro Gomes (PDT), nome esquerdista que melhor pontua em pesquisas de intenção de voto e a quem criticou em entrevista recente à colunista da Folha de S.Paulo, Monica Bergamo.
Com os versos “esse papo já tá qualquer coisa”, de sua popularíssima “Qualquer Coisa”, Caetano Veloso abriu no gogó a Conferência Cidadã, numa casa de eventos na zona oeste paulistana. O músico, contudo, já se disse simpático a outro concorrente do campo progressista, Ciro Gomes (PDT).
Sua mulher, Paula Lavigne, empresária e idealizadora do movimento político #342, é uma das entusiastas da dobradinha Boulos-Guajajara -ela recebeu o líder do MTST em sua casa, point de artistas interessados em causas políticas.
In loco ou por vídeo, em sua defesa saíram artistas como Sonia Braga, que advogou pelo “que é melhor para nós, trabalhadores”, e Wagner Moura, que já declarou votos em Lula (PT) e Marina (Rede) e hoje se diz desgostoso “com a série de retrocessos que o Brasil está passando”.
“Elites brancas”, “presidente golpista” e “chuva de conservadorismo” foram algumas das expressões aplaudidas no evento apoiado por figuras conhecidas da esquerda, como a cartunista Laerte, que atacou um Congresso “lotado de gente que nos odeia”.
O ex-governador gaúcho Tarso Genro, do PT, mandou um recado audiovisual a Boulos: “Tu é um nome para ser pensado no futuro”. O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos escolheu o mesmo formato para fazer seu desagravo à candidatura.
Pastor evangélico de credenciais progressistas, Henrique Vieira exaltou o programa “negro, feminista, LGBT” do PSOL, ao qual é filiado. “Ser religioso é sempre ser conservador? Graças a Deus e aos deuses, não.”Frei Betto enquadrou os tempos atuais numa “democracia mentirosa” e disse que “em breve não poderemos fazer reuniões como esta”.
Finalizou seu discurso com uma sugestão: “Guardemos o pessimismo para dias melhores”. Monica Iozzi previu um ano difícil pela frente. “Mas juntos a gente vai sobreviver ao ataque dos zumbis”, disse a atriz, que em 2017 foi condenada a pagar R$ 30 mil para o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
Iozzi o enfureceu ao publicar uma foto de Mendes, que havia autorizado um habeas corpus para o médico condenado por estuprar pacientes Roger Abdelmassih, com uma faixa escrito “Cúmplice?”. A plateia foi povoada por feministas, ativistas negros e LGBTQ, indígenas “e até uns burguesinhos”, como autozombou um militante “branco, hétero, cisgênero” que entoava um bordão caro a movimentos sociais: “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro”.
Escritor, rapper e poeta, Ferréz sugeriu ao público: “Quando algum jornalista perguntar cadê a periferia, pode dizer que a porra da periferia está aqui”. Engatou com uma poesia que exaltou o “terrorista literário de fuzil, Bic na mão” e “Guilherme Boulos na porra do bagulho”.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)