Se há um setor que vem pagando uma conta altíssima por essa pandemia é o comercial. As lojas, que já ficaram fechadas por 15 dias no Estado, hoje tentam se reerguer com horários restritos, atendendo poucos clientes a cada vez e adotando medidas de segurança e higiene dentro das lojas. Muitos tiveram de demitir funcionários para conseguir passar pelo período de crise. Outros, tiveram de fechar as portas de vez. E, com a possibilidade cada vez mais próxima do fechamento total, o chamado lockdown, essa conta pode entrar de vez no vermelho, e gerar ainda mais desemprego e falências.
Se por um lado as lojas estão tomando as medidas necessárias para que o contato pessoal seja mínimo, por outro, a falta de fiscalização e de consciência no bem comum podem ser vistas nos quatro cantos do Espírito Santo. No último final de semana, as praias dos balneários estavam lotadas, pontos turísticos cheios e muitos cidadãos aproveitaram o feriado prolongado para viajar de um canto a outro, simplesmente ignorando – e disseminando – a doença.
Na prática, dizem os comerciantes, a responsabilidade no combate à pandemia, que deveria ser de todos, está recaindo principalmente sobre o comércio. “O governo está tomando medidas por conta própria. Não está ouvindo quem é ligado ao comércio. No último fim de semana tive certeza de que fechar não adianta nada. Vi fotos de pessoas nas praias, no Monte Agá, na Ilha dos Cabritos. Quer dizer, estamos respeitando os horários, temos um atendimento personalizado para evitar aglomeração, muita higiene dentro das lojas, mas só nós estamos pagando a conta. A doença não vai parar só por causa do comércio fechado, já que falta fiscalização para evitar aglomeração nos outros locais. Em Piúma, mais de 30% já fecharam de vez as portas. Há muitos desempregados. E colocar a culpa no comércio é muito triste, pois é visível que as aglomerações continuam”, desabafa o presidente da Associação Comercial de Piúma (Ascopi), Alessandro Tirado.
“Fechamento total seria decretar a falência do nosso comércio. Lockdown não é a solução”, afirma o diretor de Comunicação da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Cachoeiro de Itapemirim (Acisci), Juarez Marqueti, completando que a situação do setor já é difícil após o fechamento e retorno restrito das atividades.
“Vemos isso como uma decisão imprudente, inconsequente, sem cabimento. O governo teve o prazo para fazer o necessário, teve tempo para construir UTIs, teve dinheiro, recursos, teve como contratar sem licitação. Estamos desde março nessa situação. Ele não fez o que tinha de fazer e mais uma vez está colocando esse resultado negativo na conta dos empresários. Está errado. Não concordamos. Se está faltando UTI, que faça UTI. Dinheiro e tempo não faltou. Porque não foi feito? E agora, depois de falências, prejuízo, teremos de fechar novamente porque o governo não fez o que deveria?”, questiona o presidente Associação Comercial e Industrial de Castelo (Acisc), Draico Vaz de Oliveira.
Falta diálogo
O presidente da Associação de Comércio, Indústria e Serviços de Guaçuí (ACISG), Elias Carvalho Soares, enfatiza a necessidade de o governo conversar com todos os setores da economia e não tomar decisões sem esse diálogo. “Nós confiamos nas ações do governo, na área técnica do governo que vem conduzindo bem até o momento. Mas é preciso mais diálogo. O setor empresarial precisa ser ouvido. Tivemos um diálogo muito bom no início mas, agora, essa conversa está mais rara. Se ouvirmos e sermos ouvidos, essa conversa pode gerar soluções para esse problema da Covid-19. Diálogo é fundamental”, aponta.
Falta crédito
Além das portas fechadas, o crédito é restrito àqueles que conseguiram manter o CNPJ “limpo” durante os últimos meses. Alessandro Tirado afirma que as linhas de crédito oferecidas não suprem as necessidades do setor. “A maioria do comércio está endividada e com nome negativado. Não tem a menor possibilidade de pegar empréstimo devido à regras bancárias. Na prática, essas linhas de crédito são fictícias, pois não atendem àqueles que realmente precisam do dinheiro para dar uma respirada. É mais uma maquiagem para calar o setor”.
FONTE:aquinoticias.com