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Anchieta-ES / Parada Underground 028 reúne DJ, tatuadores, Mc’s, batalhas de B-Boys em Anchieta e teve bala de borracha e spray de pimenta

A ação da Polícia Militar – PM, contra os artistas, assustou os participantes do evento que acabaram usando a agressão no refrão durante apresentações dos B-boys.

“Spray de pimenta, bala de borracha. Spray de pimenta, bala de borracha. Spray de pimenta, bala de borracha”… Foi nesta batida que começou a Batalha dos B-boys, no palco montado atrás da Vila Olímpica, em Anchieta, na Parada Underground 028, realizada neste sábado, 22.
Uma programação “braba”, com diversas atividades culturais que traduziram a arte urbana das ruas, no palco. Literalmente, 1º evento de Hip Hop no município de Anchieta, o Parada Underground teve sua execução afetada por uma ação truculenta da Polícia Militar. Artistas participantes foram atingidos por balas de borracha e spray de pimenta. O evento aconteceu no mesmo mês em que foi sancionada lei que considera o Hip Hop como patrimônio cultural do Estado, reforçando o combate à discriminação em relação às práticas e praticantes das artes ligadas ao movimento.
A Parada Underground 028 começou logo cedo, quando caia uma chuvinha, e os artistas, para se protegeram, entraram na área do 1º Pelotão da Polícia Militar. Houve um conflito e acabaram sofrendo uma ação policial que feriu três participantes do evento, com balas de borracha, disparadas pela PM que justificou o ato, pela suposta invasão na área militar. “Eles estavam dançando na área do Pelotão e não desobedeceram a ordem de saída”, disse um PM.
Depois da ação da PM, com spray de pimenta e balas de borracha, o show continuou, e o palco se tornou pista de dança de rua com as batalhas de B-Boys, batalhas de MC’s, palestra, e uma agenda extensa que varou a noite.
Patrimônio do Estado – Hip Hop

Pierrer MC, organizador do evento, lamentou muito o ocorrido e afirmou que, continuou após o episódio violento, porém, era desnecessária a abordagem como foi feita.
Mesmo assim, ocorreram apresentações de DJs, batalhas de MCs e B-boys, shows musicais, graffiti, realização de tatuagens, tranças afro e conversas sobre questões como consciência negra e diversidade sexual, dentre outras atrações. “Foi um evento para levantar a cultura e o nome da cidade, unindo os quatro elementos do Hip Hop e outras atividades. Fizemos isso para valorizar, especialmente, a galera daqui, os artistas locais que precisam ter seus espaços”, explica o organizador do evento.

Hip Hop – Patrimônio Cultural e Imaterial do ES

Foto: Luciana Maximo

Destacou Pierrer que, há 18 dias após o Diário Oficial publicar a sanção da Lei 11.771, que declara patrimônio cultural imaterial do Estado do Espírito Santo a Cultura Hip Hop, a Polícia Militar feriu artistas que foram participar do evento, em Anchieta.
“Parada Underground era um evento autorizado pela Prefeitura, devidamente comunicado ao comandante da PM, mas ainda assim, jovens foram abordados com violência por policiais da base comunitária, que fica dentro da Vila Olímpica. Por causa da chuva, os participantes procuraram um local coberto, ao lado da base, para dançar. Sem qualquer manifestação, tentativa de diálogo, PMs atacaram o grupo com spray de pimenta e disparos de bala de borracha e apreenderam a caixa de som. A comunidade hip hop não reagiu à falta de civilidade da polícia, e o caso foi parar na delegacia local. Lá, o chefe da PM na ação até reconheceu o erro, ao ver a documentação, mas para se esquivar de qualquer reprimenda, inventou fatos e manteve a caixa de som apreendida, como para manter a “prova de um crime” que eles sabiam não ter ocorrido. O militar também admitiu que o comandante não comunicou à base a respeito do evento, mas ainda assim, nada justifica o que ocorreu na noite de sábado”.

Cotovelo atingido por uma bala de borracha – Foto divulgação

A Lei 11.771, da deputada estadual, Iriny Lopes, e em construção com o movimento, diz em seus artigos 2º, no Parágrafo Único do Art. 3º, no 5º e 6º artigos que a cultura hip hop não deve ser discriminada e que os artistas (e, por extensão, o público) devem ser respeitados. Nada disso ocorreu no sábado, segundo um dos artistas participantes. “É corrente o uso da repressão contra manifestações culturais de jovens periféricos e negros. A lei publicada neste mês, sancionada pelo governador @casagrande_es, tem de ser respeitada, assim como os direitos constitucionais, igualmente atacados em Anchieta, por integrantes da PM. A lei existe e vale para todos, incluindo a Segurança Pública que, por dever de ofício, deveria ser a primeira a acatá-la. RESPEITEM O HIP HOP”!

Atingido com um tiro – Foto divulgação

Abnael de Jesus Santo – “Força Break”, de Vila Velha, foi atingido por duas balas de borracha, uma no cotovelo e uma na costela. “Eles alegaram que os moradores ligaram e denunciaram que a gente estava dançando em cima das viaturas, depredando o espaço, nós só estávamos dançando, com minha caixa ligada, nem energia deles estavamos usando. A área é aberta, a Polícia lá é comunitária, ela está dentro do espaço que foi realizado o evento, na Vila Olímpica. É uma base comunitária da Polícia, se a base é comunitária, ela tem que ser aberta para a comunidade. A gente usou só o espaço aberto dela, nós não invadimos o espaço, não tem nada, nem um arranhão, nem uma pichação nela. Só estávamos usando o espaço para ensaiar até a chuva passar, até o palco principal ficar pronto. Poréma Polícia não entendeu, chegou atirando, e aí eles perderam a razão. Ficou muito chato, uma situação ruim, penso que eles têm que aprender para isso não acontecer novamente”, frisou “Força Breack”.
Mesmo com o pedido de desculpas, as marcas ficaram na pele, e o evento foi marcado pela ação da PM. “Eu tomei dois tiros de borracha. Eu fui lá conversar com eles, eles me deram dois tiros a queima roupa, covardia, eu fui só conversar, pedi para eles pararem, ficarem tranquilos, que o evento era autorizado. Nós estávamos na guarita porque estava chovendo. O espaço é aberto, é como se fosse a garagem da viatura, mas na hora não tinha viatura nenhuma, não tinha ninguém. A gente olhou e não tinha ninguém, eles chegaram atirando pra cima e gritando: sai, sai, sai. É complicado. Queríamos muito que o evento fosse ainda mais impactante, foi bom porque serviu de aprendizado tanto para a polícia quanto para nós.

Edital

Foto divulgação

De acordo com Maria Fernanda Barros, diretora Cultural de Anchieta, a Prefeitura fez o Prêmio “Arte e Cultura”, e vários agentes culturais da cidade ganharam o edital, e Rodrigo Alpoim – Pierry MC da Cultura Hip Hop organizou o evento deste sábado, 21. A Prefeitura cedeu o espaço e o palco, mas a proposta partiu do MC. “Um artista, independente, que ganhou o edital, e usou a verba para executar o evento. Neste evento, uns convidados dele, pessoal do B-Boys, quando começou a chover, para proteger o equipamento, eles foram se proteger embaixo da tenda, exatamente, em frente da Polícia Militar. Lá, eles estavam dançando e acabaram tendo um desentendimento. A PM informou a eles que lá não poderiam permanecer, rolou um conflito. Os dois têm as suas versões, um diz que desacatou e xingaram palavras de baixo calão, gritou com o policial, subiu em cima da viatura; o outro lado justificou que tomou tiro de bala de borracha, spray de pimenta, e que os PM’s teriam tirado o cacetete. Os dois lados se queixam, mas, houve o diálogo. Eu vim mediar, para fazer o pessoal do Hip Rop não perder o controle e conversei com os policiais para eles compreenderem que é uma vertente cultural que tem de ser respeitada, como todas as outras. Infelizmente tem um ranço entre as partes”, explicou a diretora Cultural.

Pierrer MC organizou o evento – Foto divulgação

Luta antirracista

Foto divulgação

Pela manhã, a professora de História e de Educação Infantil, Luciene Carla Corrêa Francelino, doutoranda do Programa de Pós-graduação em História da Ufes, historiadora e escritora, membro da Academia Cachoeirense de Letras, fez uma palestra com o tema: “A construção histórica do racismo e a luta antirracista”.
A doutoranda destacou que, desde os primórdios da colonização do Brasil, os europeus convencidos de sua superioridade cultural, escravizaram indígenas e africanos. “No decorrer do século XIX chegou ao Brasil a teoria eugenista, que tinha como princípio criar uma raça melhorada, uma espécie de branqueamento da população brasileira. Para isso era necessário evitar a expansão da população negra, que passa a ser trancafiada em hospícios e prisões. Além da histerilização em massa de mulheres negras, a fim de não deixar descendentes. Essa política de extermínio da população negra prevalece até os dias atuais”.
Historiadora e membro da Academia de Letras Cachoeirense comentou o episódio violento da PM, antes do início do evento. “Quando cheguei no local do evento, havia acabado de acontecer uma abordagem policial, truculenta e desproporcional, com alguns participantes. Havia tantas viaturas, que não foi possível entrar com o carro no local. O clima era de tristeza e tensão. Ao tomar conhecimento do acontecido, entendi que se tratava de mais uma manifestação do racismo estrutural, que está entranhado em nossa sociedade”.
Luciene assegurou que o racismo foi construído no país desde o período colonial. “Quando os africanos sequestrados de sua terra, traficados para outro continente, tiveram sua humanidade negada, sua cultura, língua e religião demonizados, e mesmo após a abolição da escravatura, nós negros continuamos sendo perseguidos, sistematicamente, pela polícia”.

Parem de nos matar

Foto divulgação

Manifestou-se também diante do episódio a fundadora do Coletivo de Fortalecimento e Empoderamento da População Negra do Sul do Espírito Santo + Diversidade – FEPNES, Luciana de Souza. Ela destacou que o Coletivo está para debater pauta racial e provocar reflexões e incidências políticas, “pois, se os racistas não tiram um dia de folga, nós também não iremos tirar”. E frisou: “no último dia 21/01/03, escolhido para a realização do evento Parada Underground, em Anchieta-ES, organizado pelos jovens do HIPHOP e de outros movimentos sociais e antirracista, aconteceu uma triste e violenta intervenção da PM, alegando que pensou tratar-se de um movimento de baderna em local que abriga uma guarnição, dentro da Vila Olímpica”.
Luciana, ainda, foi enfática: “Nós praticamos a pedagogia da ocupação, da alegria, da cultura e arte, através da poesia, grafites, tranças, danças, versos, rimas e letras, queremos respeito, nenhum de nós estará sozinho nesta caminhada. De agora em diante vamos promover a reconstrução do Brasil e democratizar a cultura, com equidade racial, acessibilidade e inclusão”.

“Vocês combinaram de nos matar, e nós combinamos de não morrer – “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro! Parem, de nós matar” – “C. Evaristo”.

O que diz a PM

Foto: Luciana Maximo

A Reportagem entrou com contato com o subtenente Sales, da Polícia Militar, em Anchieta, que estava no comando de sábado, 22, para saber o porquê da ação que feriu os artistas.
“No momento estava chovendo, quando o pessoal chegou para poder fazer a instalação deles, não sei se entenderam errado o que a prefeitura tinha programado para eles, porque foi separada a área de estacionamento da Secretaria de Esporte, na Vila Olímpica, mas, como não tinha sido montado lá, o tapete de dança, (acho que seja isso), os B-Boys viram o estacionamento das viaturas da PM, onde fica a sede do 1º pelotão, então se deslocaram para lá. Quando as viaturas chegaram, o policial perguntou o quê estava acontecendo, eles disseram que estavam treinando, o policial disse que eles precisavam sair porque ali era a área da PM e que é a sede do pelotão de Anchieta e a galera não quis sair. Eu não sei se eles entenderam que foi aquilo que a Prefeitura tinha separado e, segundo a Secretária, eles deixaram bem claro que o deles era onde havia montado palco”.
O subtenente afirmou que os b-boys se negaram a cumprir a ordem da PM. “Uma das pessoas, que foi o que mais se exaltou, foi detido e vai responder termo circunstanciado a respeito desse descumprimento de ordem, já foi liberado. O aparelho de som que estava fora da área do evento deles foi apreendido, conforme a lei que prevê o município. Na hora que o policial chegou para dar ordem, eles desrespeitaram e ele teve que pedir apoio de outras viaturas, foi feito um tiro de elaston, se eu não me engano, e a situação foi contida, a galera se espalhou, o camarada que foi atingido foi identificado e autuado no termo circunstanciado”.
A Reportagem questionou ao comandante se não houve exagero, ele afirmou que não, porque se tratava de uma ordem simples, segundo Sales. “Eles estavam praticamente dentro da área administrativa, dentro da área da polícia, é como se eles entrassem numa área militar. Nós tivemos ali, na verdade, uma invasão de área militar. Eles estavam na porta do pelotão, tem a área de tapagem onde ficam as viaturas, se eu não me engano, tinha até uma viatura”.
De acordo com a PM, a denúncia que chegou foi que havia depredação, mas a polícia constatou na hora que não era depredação, “então pediu para eles se retirarem, o que foi negado, mas não quiseram sair da área militar. O policial deu a ordem e disse que o aparelho seria apreendido e eles disseram que não iriam sair, então, ele chamou apoio e desenrolou da forma que foi possível”.
O comando da PM salientou que, talvez, por haver uma discriminação da sociedade em relação ao hip-hop e do hip-hop em relação à própria sociedade e à própria polícia, por eles terem sido abordados e eles já se sentiram vítimas. “Era uma ordem muito simples, eles estavam na área militar, do 1º pelotão, a área deles era a 100 metros e precisavam sair dali, Negaram-se a ir para a chuva e disseram que fariam o evento ali, a polícia disse que ali eles não podiam fazer, o policial pediu reforço para tirar eles de lá. Nisso que vai fazer a retirada foi quando o pessoal do hip-hop se exaltou. Eu sei que foi o tiro de elaston, mas se teve o spray de pimenta, eu já não sei. Eles estavam no grupo, na hora havia um número maior que o número de policiais, e foi feito o uso necessário da força, para conter. Conseguiu deter um deles e fazer a apreensão, o restante espalhou”, disse.

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Fonte: Espírito Santo Notícias – Notícias de Anchieta

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