Veterinário de Anchieta é acusado de matar uma cadela após aplicar uma dose maior de anestesia. A família proprietária de Kyara denunciou o caso na Polícia, fez exame de necropsia do animal e pede justiça

Kyara era uma Spitz de estimação da família de Amélia Vieira de Araújo, vivia com eles há seis anos. Ela morreu após ser castrada no dia 19 de janeiro deste ano. A morte de Kyara se tornou caso de polícia em Anchieta, uma vez que o veterinário que fez o procedimento se negou a responder os questionamentos da dona da cachorra. Não disse onde ele a operou e teria apenas ligado informando sobre a morte e perguntado se ela queria de volta ou se ele poderia descartar o animalzinho morto.
Tão logo o veterinário, João Luís de Azevedo, entregar Kyara morta à Amélia, eles foram parar na Delegacia da Polícia Civil em Guarapari. O caso segue sendoinvestigado. Na tarde desta segunda-feira, 07, Amélia foi à Delegacia de Anchieta para ser ouvida levando consigo o laudo da necropsia que foi realizado na cadela.
O veterinário está sendo acusado de ter matado Kyara e também de atuar na cidade de forma clandestina, deixando muitos animais traumatizados. Muitas pessoas que teriam contratado os serviços dele estão comentando em grupos de WhatsApp, dizendo também terem sido vítimas.
João Luís, segundo Amélia, abordava as pessoas no Pet Rural, uma casa de ração da cidade, onde supostamente trabalhava e oferecia os serviços. Se comprometia em buscar e entregar os animais, mas não permitia que os clientes fossem até a sua clínica, nenhum dos que o contrataram sabem o endereço onde ele fazia os procedimentos.
“Ele é clandestino, ninguém sabe o endereço dele e onde ele opera. Informações essas que ele não passa nem para a polícia. São muitas vítimas e tudo que queremos é parar esse indivíduo para não causar mais sofrimento em outras pessoas. Segundo o veterinário, o motivo do falecimento da cachorra foi erro na dosagem da anestesia. Ela teve uma parada cardíaca, reanimou, fez a cirurgia e saiu pra resolver coisas na rua. Quando retornou ela já estava morta. Esse cara arrancou um pedaço de nós. O sofrimento é imenso e só queremos que ele pague por tudo isso. que a justiça seja feita!!! Te amo pra sempre minha portuguesinha, estaremos aqui por você e por todos animais”, postou Amanda no Instagram.
A Casa de ração foi procurada para esclarecer a acusação de Amélia, mas negou que o veterinário atue no estabelecimento e afirmou, em nota, que ele é um profissional liberal e que trabalha por conta própria. Veja a nota na íntegra mais abaixo.
A filha de Amélia enviou um vídeo ao jornal onde o veterinário, dentro do Pet, aparece sem luvas, com a cadela nas mãos, tirando sangue para fazer o procedimento. Exame que Amélia pagou R$30.00. O veterinário cobrou R$230.00 pela castração, mas acabou por não receber já que entregou a cadela morta.
O veterinário ligou para falar da cadela morta.

De acordo com Amanda Kamylla Bolzan, a mãe dela, Amélia, no dia 19 de janeiro foi à casa de ração Pet Rural, localizada em Anchieta, para comprar ração. Chegando lá, foi abordada pelo proprietário da casa e pelo veterinário João Luís de Azevedo (CRMV 2411 ES), perguntando se a cachorra dela já estava castrada, já vendendo o serviço deles de castração, afirmando que eles tinham uma clínica especializada em castração. “Minha mãe aceitou fazer o exame de sangue no mesmo dia, da Kyara (Spitz). Feito isso no dia 03/02, ele mandou mensagem, à noite, querendo confirmar a cirurgia para dia 04 e que ele iria buscá-la pela manhã. Minha mãe deu OK. No dia seguinte ele apareceu por volta das 9:30 para buscá-la, quando deu 11h, minha mãe tentou entrar em contato, não obteve resposta. Às 16h, ele ligou para minha mãe dizendo o seguinte: ‘Então Amélia, estou te ligando pra te avisar que já terminei o procedimento da sua cadela, mas eu apliquei a anestesia numa dosagem maior que o necessário, e ela deu uma parada cardíaca, tentei reanimá-la e ela reagiu, aí comecei o procedimento da castração, finalizei e tive que sair para atendimento na rua. Quando retornei ela já estava morta”. Logo em seguida, ele fez a seguinte pergunta “quer que eu a descarte ou entrego em mãos?”’, relatou Amanda.
Em desespero Amélia aguardou que o veterinário levasse a Kyara em sua casa, no bairro Canta Galo. “Quando ele chegou para deixá-la, pediu para ir embora logo e ninguém permitiu, ficamos perguntando onde foi que ele operou e o que realmente aconteceu. Ele não queria dar informações e satisfação. Daí acionamos à polícia e fomos conduzidos para a Polícia Civil em Guarapari. Chegando lá somente ele foi ouvido, separadamente, no qual também não deu as informações da suposta clínica. Minha mãe Amélia não foi ouvida, somente recolheram os dados e disseram que não poderia ser feito nada. Saímos da delegacia com o Boletim de Ocorrência e começamos a fazer uma movimentação nas redes sociais (Instagram e Facebook) em forma de protesto, daí começamos a receber vários outros relatos de pessoas que sofreram a mesma coisa com esse veterinário e a casa de ração Pet Rural”.
Segundo Amanda, busca por informações sobre onde funciona a clínica do veterinário e acabou descobrindo que não existe. “Descobrimos que ele não tem clínica, opera em casa, onde há uma denúncia de uma mulher que já viu ele operando em cima de uma máquina de lavar. Relatos de cães e gatos que foram “tratados” por ele e voltaram pra casa traumatizados e à beira da morte. Gostaríamos de um apoio para tomarmos uma providência, para que isso tenha um fim. Nossos animais são membros da nossa família, não podemos permitir que pessoas assim sejam consideradas como profissionais”, ressaltou Amanda.
Na tarde desta segunda-feira, 07, Amélia foi à Delegacia de Anchieta para ser ouvida. Ela realizou exames de necropsia da Kyara para saber a causa da morte da cachorra, uma vez que, o veterinário disse a ela que teria aplicado uma dose maior de anestesia.
Guarda atravessa o carro na frente para ele não fugir
A Guarda Marintia Beatriz Stavise, simpatizante da causa animal, recebeu o telefonema desesperado de Amélia no momento que o Veterinário chegava em sua casa e já com a polícia e moradores no local e afirma:
“Jamais vi uma cena tão estarrecedora! Os policiais, a dona do animal e eu mesma questionávamos sobre aonde Kiara foi operada e o mesmo ignorava e tentou entrar no carro para evadir-se do local, alegando terceira fazer outros atendimentos! Nunca vi tanta frieza em minha vida”.
Beatriz relatou que o veterinário entregou a cadela já dura e queria ir embora com pressa. “Entrei no meu carro e atravessei atrás do carro dele e na frente ficou o da Policial. Há tempos desconfiava de tal atitude, até parei de o indicar para as pessoas, pois ele nunca Dalva para onde levava os animais ou dizia ser numa clínica em piuma, masjamais dava endereço. Pegava o animal cedo, não atendia telefone é só entrava em contato para entregar.
Quando castrei uma cachorra deveria com ele, só pediu exame de sangue, no assinei termo algum pré cirúrgico , não me foi pedido exame cardiológico é apenas chegou com a receita pronta “
Outra cadela morreu após ser operada
Uma outra possível vítima morreu no dia 05 de dezembro. A proprietária que não será identificada, chamada aqui de A, disse que vai aguardar a investigação da Polícia para saber se o veterinário estava realmente realizando cirurgias clandestinas e, então, descobrir o que ocorreu com a cadela dela, que foi diagnosticada, pelo veterinário, como portadora de um tumor, mas não fez nenhuma ultrassonografia ou exame específico que constatasse.
A cadela era uma Rottweiler de três anos que começou com um quadro de diarreia e há um ano foi feito um tratamento com sucesso. Depois ela começou a ficar um pouco triste de uns sete meses para cá. “Eu imaginei que poderia ser uma doença do carrapato ou outra situação. Eu sempre comprava medicamentos no Pet, onde o veterinário. Numa dessas idas, atendentes me disseram que havia um veterinário que atendia duas vezes por semana, após as 16h00, e que eu poderia levar o meu animal para ele consultar. Ele me tratou muito bem e ao meu animal também. O medicamento que ele deu não resolveu porque minha cachorra, com certeza, tinha um problema mais sério. Foi feito um exame de sangue e nele constatou uma doença sexualmente transmissível. Eu falei com ele que não seria o caso da minha cachorra, poie nunca tinha tido relação com outro animal e não era uma cachorra de rua. Ela vivia num sítio. Depois ele disse que poderia ser outro tipo de doença no útero dela, fez o procedimento e castrou a cachorra. Ele falou que fazia cirurgias em Piúma”, contou A, que sentiu segurança no momento que conversou com o veterinário, na Casa de Ração, em Anchieta. “Ele pegou minha cachorra de manhã e voltou por volta das 18h30. Eu mandei mensagem preocupada, porque ele não me passou nenhum quadro da cachorra durante o dia. Porémela voltou operada”, comentou A.
Segundo A, o veterinário disse que o que pôde fazer foi a castração, mas o útero estava normal, entretanto, disse que a cadela tinha um tumor grande. “E que o tumor só poderia ser operado em Guarapari, não poderia ser operado na clínica de Piúma, que não teria recurso para cirurgia dela. Ele disse que ela poderia viver um mês, como podia viver dois anos. Eu esperei o prazo da cirurgia porque não teria como levá-la pós-operada para Guarapari, depois de uma semana ela começou a ficar, de novo, doente; cansada, sentindo dor e logo veio a morrer”, relatou.
A não sabe exatamente o que ocorreu com a cachorra dela. “Eu não sei o que ele fez com a minha cachorra, se de fato ele tirou o útero, se de fato teria isso, o tumor, ou se ela morreu em decorrência da cirurgia que ele fez, se foi errada. Eu não sei afirmar. Se na investigação policial ficar constatado que ele estava dentro de uma clínica clandestina. Eu estou muito triste”.
O veterinário se confundiu no diagnóstico da Rottweiler, segundo A. “Quando ele trouxe a minha cachorra disse que ela tinha um tumor, ele abriu e fechou e não fez nada. Sempre foi diagnostica por exame de sangue, não por um exame específico. Ele foi confuso, disse que ela estava com piometra e depois viu que não era. Foi uma coisa muito confusa. Ele poderia ter feito outros exames específicos do animal. Minha cachorra foi com um quadro e ele passou outro. Estava sendo medicada com Buscopam Composto e não resolvia”.
A reportam tentou falar com a delegada que responde por Anchieta para falar sobre o caso da cadela Kyala, e não conseguiu êxito.
NOTA DE ESCLARECIMENTO

“Em decorrência às diversas publicações em redes sociais e grupos de WhatsApp envolvendo a PET RURAL, serve a presente nota para prestar esclarecimentos aos nossos clientes, amigos e amigas, seguidores e seguidoras e a toda sociedade em geral, nos seguintes termos:
A PET RURAL é uma empresa constituída há mais de 13 anos, trabalhando no ramo do comércio varejista de animais vivos, alimentos para animais de estimação, medicamentos veterinários, plantas, flores naturais e artigos de caça, pesca e camping. Há anos no mercado, trabalhando com responsabilidade e respeito.
O lamentável ocorrido no último dia 04/02, não possui qualquer ligação com a empresa PET RURAL. O profissional liberal que iniciou o “suposto procedimento de castração do animal”, não presta esse tipo de serviço no estabelecimento PET RURAL e muito menos possui esse tipo de parceria. Trata-se de profissional liberal/autônomo e como tal trabalha em estabelecimento próprio.
A empresa PET RURAL se solidariza com o sofrimento da família, que perdeu o seu amado animal de estimação e se coloca à disposição para todos e quaisquer esclarecimentos.
Todas as publicações em rede sociais e grupos de WhatsApp serão apuradas pela Assessoria Jurídica da empresa PET RURAL”.
Veterinário não atende o telefone
A reportagem ligou por três vezes para João Luís e ele não atendeu às ligações. Enviou mensagens pelo WhatsApp e ele não respondeu.
Comissão de Maus Tratos na Assembleia

A presidente da Comissão de Maus Tratos contra Animais na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, deputada Janete de Sá, tomou conhecimento do caso da cadela Kyara, de Anchieta, na tarde desta segunda-feira, 07, através da TV Guarapari, mas oficialmente ainda não recebeu o Boletim Unificado da tutora da cadela com as informações. “Amanhã tem reunião da CPI para tratar de um outro caso, se o material chegar vamos tentar encaminhar amanhã mesmo”, informou a assessoria da deputada.
Maus tratos a cães e gatos podem levar a 5 anos de cadeia

A lei que aumenta a pena para maus-tratos contra gatos e cachorros foi publicada no dia 30 de setembro de 2020, no Diário Oficial da União. De autoria do deputado Fred Costa (Patriotas-MG), o texto altera a Lei de Crimes Ambientais aumentando a pena – que passa a ser de dois a cinco anos de reclusão, com multa e proibição de guarda. O autor do crime passa também a ter um registro de antecedentes criminais.
Antes das mudanças, a penalidade para violência contra animais silvestres, domésticos e domesticados era de detenção de três meses a um ano. As alterações se referem apenas a gatos e cachorros. Veja a lei na íntegra:
“LEI Nº 14.064, DE 29 DE SETEMBRO DE 2020
Altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para aumentar as penas cominadas ao crime de maus-tratos aos animais quando se tratar de cão ou gato.
O crime é previsto pelo artigo 32 da lei nº 9.605, com alteração da lei nº 14.064/2020, como abusar, maltratar, ferir ou mutilar cão ou gato. A lei fala não é apenas de maus-tratos, mas também de abusar e ferir o cão e o gato. Esse crime tem pena de reclusão de 2 a 5 anos, multa, e proibição da guarda, além de poder ser aumentada de 1/6 a 1/3 da pena, se ocorrer morte do animal. A pessoa que maltrata pode ser presa em flagrante.
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