Todo grande filme precisa de um grande vilão. Hollywood sabe que não há bilheteria sem um antagonista malvado de alta qualidade, capaz de deixar o herói em apuros sérios, antes de ser finalmente derrotado.
No passado, para fazer um bom vilão, bastava apelar para algum estereótipo geográfico (o russo, o alemão, o japonês), político (o ditador bananeiro, o terrorista vingativo, o ex-agente traidor) ou então colocar uma cicatriz medonha em algum lugar bem visível.
Os tempos politicamente corretos, junto com o enfado com clichês malhados, restringiram as possibilidades de vilania. Os roteiristas tiveram que se adaptar e inventar novos inimigos para atormentar os galãs de plantão. Eis que surge a inteligência artificial – ou IA, em linguagem nerd.
Inteligência artificial é o termo que se usa para definir um programa de computador com um algoritmo capaz de se modificar a partir da experiência. Ou seja, conforme o programa roda, ele ‘aprende’ novas habilidades e se altera para aprimorar seu próprio desempenho. Essa tecnologia permite a automatização de tarefas combinada com um certo nível de aprendizado. Isso facilita o uso de aplicativos e até permite que um computador enfrente adversários humanos em jogos como o poker ou xadrez.
Hollywood
Claro que, em Hollywood, tudo se exagera. E em um bater de claquete, a IA está aprendendo a dominar o mundo. É nessa premissa que se desenvolveram vários sucessos do cinema, como O Exterminador do Futuro (com todos os filmes) e Matrix (com as sequências antigas e também uma novinha em folha). Nos dois casos, a humanidade é vítima de sua própria competência, tendo criado uma tecnologia tão boa que aprendeu que humanos não prestam.
Em outras ocasiões, a IA vilã é insidiosa e age nos bastidores, tramando nas sombras o golpe contra a imperfeição dos homens. É o caso de Ex Machina e Eu, Robô. Se não viu esses filmes, assista, porque valem a pena. E nenhum spoiler foi dado nessas linhas.
A mistura de inteligência artificial com realidade virtual também rende boa diversão nas telas. A série britânica Black Mirror, que poderia ser uma das melhores da Netflix, tem um excelente episódio com esse tema, chamado Hang the DJ, que traz um sistema de IA para encontro de casais altamente avançado. E a produção da concorrente Amazon Prime Video, Electric Dreams, traz histórias adaptadas de contos de Philip K. Dick e tem, logo em seu primeiro episódio, Real Life, uma bela mistura de IA com VR. Assista e chegue às suas próprias conclusões…
Robin eletrônico
Mas nem sempre a tecnologia é malvada. Aqui e ali, ela se torna companheira fiel do herói, uma espécie de Robin eletrônico. É o caso de Jarvis, o mordomo cibernético de Tony Stark, capaz de apoiar incondicionalmente o tresloucado patrão em suas aventuras com os Vingadores. E até mesmo agir como agente infiltrado em A Era de Ultron, um raro caso de IA do bem e do mal em um mesmo filme.
Comédias também apelam para IA, de vez em quando. No filme Click, o controle remoto mágico ‘aprende’ as preferências de seu dono – e o coloca em uma enorme confusão, por toda a vida. E na divertida animação Tá chovendo hambúrguer, a maravilhosa máquina de fazer comida de Flint Lockwood acaba ganhando vida própria e causando tempestades de risos.
Por fim, há um filme que tem a tecnologia desde o título: A.I. – Inteligência Artificial é um longa do diretor Steven Spielberg, sobre um projeto iniciado por Stanley Kubrick. A trama explora a ideia de criar uma máquina – no caso um robô idêntico a um menino – capaz de desenvolver sentimentos.
A premissa é boa, mas a produção ficou um pouco capenga, apesar do ótimo elenco, com Jude Law e Haley Joel Osment. Spielberg quis gravar a ideia original de Kubrick, falecido alguns anos antes, e não ousou mexer muito no roteiro. Talvez devesse, porque o filme, além de ser incrivelmente triste, dá a impressão que vai acabar pelo menos três vezes, antes de terminar de fato. Aquilo que Kubrick imaginou nos anos 80 já não funcionava em 2001, quando a obra foi lançada. Se Spielberg fosse uma IA, teria aprendido a lição e mudado o script.