A forte ressaca que atinge o Estado fez aumentar a destruição na Praia de Meaípe, com rampas e calçadão quebrados, e na região de Porto Grande, na Rodovia do Sol (ES-060), em Guarapari.
Com parte da pista destruída pela erosão, caminhões, ônibus, carros e motos se arriscam passando bem próximo da cratera aberta pela força das ondas dos últimos dias. Já os ciclistas e pedestres começam a evitar passar pelo local.
O mar agitado tem deixado os motoristas assustados na região. É o caso do motorista de ônibus Roberto Rui, de 61 anos. Segundo ele, o caminho ficou ainda mais perigoso.
“A gente já viu aqui os carros que caíram neste ponto. Não temos o que reclamar da sinalização, porque há várias placas, mas existe o perigo do asfalto ceder a qualquer momento, já que as fortes ondas que estão batendo na barreira vão cavando por baixo do asfalto. É uma tragédia anunciada”, disse.
Em agosto do ano passado, o carro de um comerciante de 60 anos caiu na areia da praia. O veículo ficou destruído e foi retirado por um caminhão. O motorista não se feriu e chegou a ser preso por aparentar sinais de embriaguez. Ele pagou fiança e foi liberado.
No final de julho de 2019, um EcoSport prata também caiu na areia. O mar estava tão agitado que as ondas acabaram levando o veículo, que ficou destruído. No mesmo dia, um Fiat Doblo cinza ficou pendurado no mesmo local e, por pouco, não caiu no mar também.
Obras
O Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES), responsável pela via, informou que monitora constantemente o trecho e a sinalização.
Afirmou que a equipe acompanha o fluxo de carros, ciclistas e pedestres e orienta prudência ao trafegar no trecho. Questionado sobre uma possível interdição da via, devido ao perigo, o DER disse que não há previsão de interdição.
É planejado para a costa de Guarapari o engordamento da Praia de Meaípe, que vai reduzir os impactos das ondas na costa.
Segundo o DER-ES, a contratação das obras de contenção e engordamento da praia será publicada ainda neste ano.
Quanto à orla de Meaípe, a Prefeitura de Guarapari, por meio da Secretaria Municipal de Obras, informou que irá promover o reparo da via.
Falésias podem desmoronar
Outra preocupação que fica para os moradores com as fortes ondas que atingem a orla capixaba é quanto às falésias de Maimbá, em Anchieta.
O mar agitado está cavando a barreira, e o medo é que um ponto turístico possa desmoronar.
O oceanógrafo e professor da Ufes Agnaldo Martins explica que a ação de desmoronamento não é comum, mas pode acontecer.
“É uma situação incomum, mas a longo prazo, pode acontecer. O perigo existe e, neste momento, está acontecendo um fenômeno diferente. O vento sul tem poder de destruição, e soprando com maior duração e persistência, pode causar esse dano”, esclarece.
Em 2018, parte de uma falésia da Praia de Canoa Quebrada, no município de Aracati, um dos principais pontos turísticos do litoral do Ceará, foi destruído por uma ressaca.
Perigo com ondas de até cinco metros e ventania
Em decorrência do ciclone subtropical que está a mais de 800 quilômetros da costa do Estado, o mar está agitado, há ventos fortes e todo o litoral capixaba está sujeito a impactos.
Em alto-mar, podem se formar ondas de até cinco metros de altura até a madrugada de amanhã.
A informação é de uma análise conjunta feita pelo Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe) e pelo Centro Integrado de Meteorologia Aeronáutica da Força Aérea Brasileira (Cimaer/FAB).
“No trecho litorâneo capixaba, as ondas alcançarão, em média, 2,5 metros. No Litoral Sul, podem ficar mais fortes e atingir 3,5 metros. A Marinha do Brasil classificou o fenômeno como subtropical, em razão da região de formação”, disse o coordenador de Meteorologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Hugo Ramos.
Hugo alertou aos navegantes que façam consultas junto à Marinha antes de se lançarem ao mar. “Em relação às praias, deve-se observar a força das ondas e evitar qualquer tipo de atividade, em caso de avanço das marés”, ressaltou.
Segundo a meteorologista da Climatempo, Josélia Pegorim, rajadas de vento de 50 a 70 km/h podem ocorrer na manhã de hoje. À tarde, a expectativa é de que esse ciclone comece a perder força, porque entrará em dissipação.
“A partir de quinta-feira (27), a situação entra em normalidade. Mas, ainda irão sobrar bandas de nuvem próximas ao Espírito Santo, e poderão provocar uma chuva rápida na costa do Estado. Não há expectativa de temporal”.
Segundo Josélia, o fenômeno se formou a partir de uma frente fria que atingiu o País, gerando uma queda da pressão atmosférica.
FONTE: tribunaonline.com.br