Com mais um acesso de ira, em que não faltaram xingamentos ao secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, chamado novamente de “vagabundo” e “agente infiltrado de Cuba”, o deputado estadual Capitão Assumção (Patri) agitou a sessão virtual da Assembleia Legislativa desta quarta-feira (16), marcada por pronunciamentos em defesa de um grupo de seis deputados, que na última sexta-feira (12) “invadiram” o Hospital Dório Silva, na Serra.
A sessão foi um desdobramento da politização da pandemia do coronavírus em nível local, em uma repetição do mesmo cenário da política no âmbito nacional, à frente o presidente Jair Bolsonaro, alvo de críticas e protestos da maioria das autoridades médico-sanitárias, que recomendam o isolamento social.
Os deputados negam motivação política nas críticas que fazem ao programa de combate à Coivid-19 posto em prática pelo governador Renato Casagrande (PSB) e o secretário Nésio Fernandes (PCdoB). No entanto, o posicionamento do grupo que visitou o hospital demonstra o contrário, por meio de falas de conteúdo político-ideológico.
Os parlamentares são objeto de um pedido de investigação da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) encaminhado ao Ministério Público (MPES) nessa segunda-feira (15), que envolve, além de Assumção, os deputados Torino Marques (PSL), Danilo Bahiense (PSL), Carlos Von (Avante), Vandinho Leite (PSDB) e Lorenzo Pazolini (Republicanos), por terem infringido “determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”.
Do interior do carro, estacionado ao lado da Assembleia, Assumção disse não ter medo de ser processado e lembrou alguns casos, citando processos movidos contra ele pelo prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros (PCdoB), chamado de “bandido”, e o Psol, por ele considerado “uma facção criminosa”.
“Pode meter ação, pode meter processo, o que eu faço é desmascarar comunista,vagabundo, pilantra”, esbravejou o deputado, para quem o secretário de Saúde é “incompetente”, e “ganhou um diploma em Cuba, na época da Dilma”. A explosão de ira do Capitão Assumção, diante de um plenário virtual voltado para a defesa dos parlamentares, foi precedida por pronunciamentos em sua maioria em defesa das prerrogativas.
As agressões foram criticadas por parlamentares, depois do encerramento da sessão, que preferem não revelar o nome. “Assumção está extrapolando”, “ameaças e agressões pessoais sujam a imagem da Casa” e “assim, ele não vai a lugar nenhum” são algumas das frases dos parlamentares.
O deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) condenou a iniciativa da Procuradoria-Geral do Estado de mover ação contra os deputados: “Temos que preservar o direito de atuação em todos os aspectos”, disse. Para ele, a “PGE não tem que se meter, pois a questão deve ser resolvida na base”, com a liderança do governo na Assembleia. “Apelo para que a PGE retire essa medida”, acrescentou.
Torino Marques, Vandinho Leite, Carlos Von, Danilo Bahiense e Lorenzo Pazolini, que com Assumção formam o grupo que esteve no Dório Silva, criticaram a ação do governo. Para Vandinho Leite, a PGE procura intimidar a Assembleia, prometendo um relatório da visita ao Dório Silva “para breve”.
Já Carlos Von afirmou que ver o uso de “dinheiro público para intimidar os deputados dá vontade de usar as mesmas palavras do capitão [Assumçao]”. O pedido de Enivaldo para que a PGE retire o pedido de investigação foi feito, também, por Danilo Bahiense,
Lorenzo Pazolini seguiu na mesma linha, ressaltando que querem calar o poder, amordaçar, com uma narrativa falsa, que “não se sustenta juridicamente, pois não há qualquer relação com pronunciamento de qualquer autoridade”, uma referência à fala do presidente Jair Bolsonaro, que sugeriu invadir unidades hospitalares para fiscalizar o avanço da Covid-19.
Pazolini extrapolou os cinco minutos previstos para sua fala e justificou essa postura porque precisava falar sobre o envolvimento de sua filha, de 11 anos, agredida em rede social em decorrência da “invasão” ao hospital Dório Silva. Recebeu a solidariedade dos outros parlamentares, que se solidarizaram, também, com o deputado Dr. Hércules (MDB), de mais de 80 anos, alvo de agressão verbal de Vandinho na última segunda-feira, que o chamou de “cara de pau”.
O deputado Bruno Lamas (PSB) saiu em defesa do secretário Nésio e disse que é muito fácil “colocar uma Bíblia debaixo do braço e pregar outra coisa”, uma referência, sem mencionar o nome, ao Capitão Assumção, que se diz evangélico. Alexandre Quintino (PSL) também lembrou elogio feito pelo então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que, no início da pandemia, destacou a eficiência do secretário: “Cuidem bem do seu secretário de Saúde, ele está conduzindo bem o trabalho”. Dois dos últimos deputados a falar nessa fase da sessão foram Emílio Mameri (PSDB), que pediu “moderação”, e Dr. Hércules: “Não se pode fazer política de forma raivosa”, disse.
FONTE:seculodiario.com.br